No tabuleiro global dos minerais estratégicos, o Brasil segura uma das cartas mais valiosas: cerca de 98% das reservas mundiais de nióbio, concentradas principalmente na mina de Araxá, Minas Gerais. Essa exclusividade geológica, no entanto, não se traduz em liderança absoluta no jogo tecnológico, um paradoxo que a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) conhece bem.
Controlada majoritariamente pela tradicional família Moreira Salles, que fundou o Unibanco, a CBMM mantém seu posto como gigante mundial, respondendo por aproximadamente 80% do mercado global de ferronióbio. O metal extraído em Araxá abastece indústrias que vão desde a construção civil, com aços especiais para prédios e pontes, até a alta tecnologia de turbinas aeronáuticas e estruturas de foguetes. A companhia tem ainda a participação minoritária de um consórcio asiático, formado por grupos da China, Japão e Coreia do Sul, refletindo o interesse dos países consumidores em garantir a estabilidade do fornecimento.
Apesar da supremacia na mineração e no processamento, o Brasil ainda patina na etapa seguinte: a produção de bens de alto valor agregado a partir do nióbio. Aqui reside o dilema clássico da economia mineral brasileira: o país é dono da matéria-prima, mas deixa que outros capitalizem sobre a inovação tecnológica e os ganhos estratégicos que ela proporciona.
Nos laboratórios de pesquisa, no entanto, há sinais promissores. Parcerias entre a CBMM, a Universidade de Cambridge e o Centro de Inovação da USP (Inova USP) investem no desenvolvimento de aplicações revolucionárias, como baterias de recarga ultrarrápida, supercondutores e materiais híbridos para veículos elétricos. Tais avanços indicam que o nióbio pode ultrapassar seu papel tradicional e entrar na vanguarda dos materiais críticos para a nova indústria global.
Mas para o Brasil transformar essa vantagem geológica em poder econômico e político, será necessário um projeto industrial robusto e uma visão de longo prazo, que ultrapasse a mera extração e exportação de minério. O nióbio, afinal, tem potencial para ser muito mais do que um produto de exportação: pode ser a chave para a inserção do Brasil no tabuleiro estratégico das tecnologias do futuro. Resta ao país decidir se vai apenas jogar as cartas que tem, ou se aprenderá a dominar o jogo.
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