Todo segundo domingo de agosto, o Brasil se emociona de novo: os filhos procuram nas vitrines algo que traduza o “obrigado por tudo, pai”, e os pais, geralmente em silêncio, aceitam meias, gravatas e porta-retratos duvidosos com a mesma dignidade com que aceitam boletos, broncas no trabalho e a última fatia de pizza indo para o filho mais novo.
Mas antes de chegar a esse momento de propaganda emocionante com música de piano ao fundo, o Dia dos Pais percorreu uma estrada curiosa, feita de fé, barro, política e, claro, publicidade.
Tudo teria começado na antiga Babilônia, há mais de quatro mil anos, com um garoto chamado Elmesu. Dizem que ele moldou em argila o primeiro “cartão” de Dia dos Pais da história para homenagear o rei Nabucodonosor, seu pai. Se é lenda ou verdade, ninguém sabe. Mas o gesto ficou. Porque filhos, desde sempre, tentam traduzir em gestos simples um amor que nunca coube direito nas palavras.
Séculos depois, já em 1910, nos Estados Unidos, uma jovem chamada Sonora Smart Dodd ouvia um sermão sobre o Dia das Mães e pensou no próprio pai, um viúvo que criou seis filhos sozinho. Não achou justo que só as mães fossem lembradas. Criou, sozinha, o embrião do Dia dos Pais moderno. Levou tempo para convencer os poderosos. Só em 1972, já com Richard Nixon na Casa Branca, o Dia dos Pais virou feriado nacional. Quase seis décadas de espera. Porque amor de pai também costuma ser assim: discreto, paciente, sem pressa de reconhecimento.
No Brasil, a origem foi menos romântica, mas igualmente reveladora. Em 1953, o publicitário Sylvio Bhering, diretor de O Globo, resolveu importar a data. E, como todo bom publicitário, viu na emoção um motor para o consumo. Estabeleceu o Dia dos Pais em agosto, próximo ao dia de São Joaquim, pai da Virgem Maria. A ideia era simples: vender mais. Mas, de brinde, ajudou a criar uma tradição.
Hoje, o Dia dos Pais virou esse ritual brasileiro: churrasco na laje, ligações atrasadas, álbuns de infância ressuscitados no Instagram. Muitos pais estarão lá, de camisa pólo e sandália, disfarçando a emoção atrás de uma piada ruim. Outros estarão ausentes, por distância, tempo ou ausência maior. E há também os que nunca estiveram, mas cuja falta é presença diária.
No fim das contas, não importa se o presente vem da Babilônia ou da loja de departamentos. O que vale é o gesto, a tentativa, ainda que imperfeita, de dizer: “eu te vejo”. Porque, muitas vezes, é tudo que os pais queriam ouvir.
E se não souber o que dizer neste domingo, vá pelo simples. Um abraço firme, um olho no olho, um “valeu, pai”. Já é bastante para quem passou a vida tentando ser forte o suficiente pra nunca pedir nada.
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