Em Cracóvia, no Museu Czartoryski, um espaço vazio emoldurado ocupa a parede como se fosse uma ferida aberta. Ali deveria estar o Retrato de um Jovem, atribuído a Rafael e considerado por críticos uma das maiores perdas artísticas do século XX. O quadro sumiu em meio ao colapso do Terceiro Reich e nunca mais foi encontrado.
A obra, datada de 1513–1514, foi escondida pelos curadores do museu às vésperas da invasão nazista, ao lado de peças de Leonardo da Vinci e Rembrandt. A precaução, porém, não resistiu ao apetite de Hans Frank, governador-geral da Polônia ocupada, que incorporou os três tesouros à sua coleção pessoal. Dois deles voltaram para Cracóvia após a captura de Frank, em 1945. O de Rafael não.
Desde então, a busca se transformou em um jogo de hipóteses. Historiadores sugerem que a pintura pode ter sido levada por Frank em sua fuga da Baviera, destruída durante os bombardeios ou desviada para coleções particulares na Alemanha, na Suíça ou na Rússia. O jornal The Art Newspaper destacou, em 1998, que mesmo arquivos secretos soviéticos consultados não ofereceram qualquer pista concreta.
A identidade do jovem retratado é outro mistério. Para alguns, seria uma espécie de autorretrato do próprio Rafael; para outros, a representação idealizada de um nobre renascentista sob influências da Antiguidade. Sem registros em cores, restaram apenas fotografias em preto e branco, nem mesmo a paleta original pode ser recuperada.
Em 2016, quando o Estado polonês comprou a coleção Czartoryski por €100 milhões, incluiu-se no pacote não só os quadros em mãos, mas também o direito sobre a obra desaparecida. No museu, o retângulo vazio continua exposto. Não é apenas a ausência de uma pintura, mas a lembrança insistente de que a guerra não terminou para a arte.
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