Em um Brasil onde a produtividade é constantemente exigida, a síndrome de burnout se tornou uma sombra silenciosa que atinge 32% dos trabalhadores, de acordo com dados recentes. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019, essa condição de estresse crônico tem gerado preocupação, mas também traz à tona uma série de desafios em termos de diagnóstico e tratamento. E, apesar das campanhas sobre autocuidado, especialistas alertam: o simples “cuidar de si” pode não ser suficiente para combater uma epidemia de esgotamento tão complexa.
O burnout é uma reação prolongada ao estresse ocupacional, em que o indivíduo perde a capacidade de lidar com suas demandas diárias. Sintomas como exaustão física e mental, sentimentos de insuficiência e distanciamento emocional do trabalho se tornam parte da rotina de quem sofre da síndrome. Estudos apontam que a pressão por resultados, aliada a ambientes de trabalho tóxicos e à falta de apoio psicológico, são fatores determinantes para o surgimento do problema.
Para a psicóloga e especialista em saúde mental no trabalho, Drª Mariana Soares, o burnout está diretamente ligado a fatores sociais e organizacionais. “A mudança de uma estrutura de trabalho voltada para a colaboração e o bem-estar para um modelo focado no rendimento a qualquer custo é um dos maiores impulsionadores dessa síndrome”, afirma. A pressão para estar constantemente disponível, o aumento das jornadas de trabalho e o uso excessivo da tecnologia contribuem para o desgaste acelerado.
Porém, o diagnóstico da síndrome de burnout é complexo. Não existe um exame clínico específico que comprove a condição. Ela é identificada a partir de uma análise detalhada do histórico do paciente e da observação de sintomas que ultrapassam os sinais normais de cansaço ou estresse momentâneo. “Muitas vezes, o que se vê são os sintomas sendo confundidos com depressão ou ansiedade, o que dificulta um diagnóstico precoce”, explica a psiquiatra Drª Clara Mendes.
O tratamento não se resume ao simples autocuidado ou descanso. Ele exige um olhar mais profundo para as causas estruturais do estresse no ambiente de trabalho. A terapia cognitivo-comportamental, o apoio psicológico e, em casos mais graves, o uso de medicamentos antidepressivos, são algumas das opções recomendadas. No entanto, mudanças organizacionais, como a implementação de práticas de gestão humanizada, são cruciais para um combate mais eficaz à síndrome.
Além disso, a conscientização sobre a saúde mental nas empresas tem ganhado força. Programas de prevenção e apoio, como a criação de espaços para diálogo e o incentivo a pausas durante a jornada de trabalho, são algumas das iniciativas que ajudam a amenizar o impacto do burnout. Porém, o combate ao estresse crônico exige uma abordagem coletiva que envolva governos, empresas e profissionais da saúde.
Em tempos de crescente pressão profissional e expectativas intensificadas, a ciência do burnout traz à tona a necessidade urgente de repensar o que significa estar “cansado demais”. O verdadeiro desafio não está em encontrar soluções individuais, mas em transformar os ambientes de trabalho e as estruturas sociais para que o esgotamento não se torne a norma.
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