A eletrônica da economia mundial colocou o lítio no centro de uma disputa estratégica que envolve governos, multinacionais e investidores. O minério, essencial na produção de baterias recarregáveis, movimenta um mercado que só em 2023 consumiu cerca de 800 mil toneladas de carbonato de lítio equivalente (LCE). Projeções da Agência Internacional de Energia apontam que a demanda pode alcançar 2 milhões de toneladas até o fim da década.
Nesse tabuleiro dominado por gigantes como Austrália, Chile e China, o Brasil tenta garantir espaço. O destaque vem de Minas Gerais, onde está localizado o chamado “Vale do Lítio”, região que reúne 14 municípios com reservas expressivas do minério. Quem opera ali é a Companhia Brasileira de Lítio (CBL), fundada em 1985 e ativa desde 1991. A empresa, discreta fora do circuito industrial, passou a ganhar atenção a partir de 2023, quando intensificou a produção de LCE, insumo direto das baterias de veículos elétricos.
O movimento acontece num momento de instabilidade global. Em agosto de 2025, a China suspendeu temporariamente a extração na mina Jianxiawo, a maior do país, provocando alta imediata nos preços internacionais. O episódio reforçou a percepção de que o abastecimento global do setor ainda é vulnerável a gargalos logísticos e decisões políticas.
Enquanto isso, montadoras e empresas de tecnologia investem bilhões em refinarias próprias para reduzir a dependência externa. A Tesla, por exemplo, já anunciou projetos de refino de lítio nos Estados Unidos. Paralelamente, pesquisas em alternativas, como as baterias de íon de sódio, com custo inferior e matéria-prima abundante, indicam que parte da demanda pode migrar para novas tecnologias. A Bloomberg estima que até 2035 essa substituição represente 272 mil toneladas a menos de lítio consumidas por ano.
O desfecho dessa corrida interessa diretamente ao Brasil. Se conseguir articular políticas de incentivo e agregar valor ao minério extraído, o país pode se posicionar além de mero fornecedor. Caso contrário, corre o risco de repetir a velha história de exportar recursos brutos e importar tecnologia cara.
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