O governo federal lançou, no dia 14 de agosto, no Recife, o programa Agora Tem Especialistas, iniciativa que pretende reduzir a fila de consultas e cirurgias do SUS por meio de parcerias com hospitais privados. O evento, acompanhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), marcou o atendimento de apenas oito pacientes na rede Hapvida. Desde então, não houve novos procedimentos.
A proposta central é que operadoras de saúde quitem dívidas de ressarcimento ao SUS oferecendo serviços médicos à população. O Ministério da Saúde calcula movimentar R$ 1,3 bilhão por ano nessa troca. Em julho, Padilha chegou a prometer que as primeiras consultas e exames pela rede privada começariam ainda em agosto, mas a própria pasta recuou e atualizou a previsão para setembro. Até agora, entretanto, não há confirmação oficial de adesões além da Hapvida.
Os procedimentos realizados no lançamento incluíram duas cirurgias de quadril, duas de vesícula, duas tomografias e duas ressonâncias. Lula visitou parte dos pacientes atendidos no Hospital Ariano Suassuna, unidade recém-inaugurada da Hapvida na capital pernambucana.
Apesar da repercussão, técnicos do SUS consideraram precipitado o anúncio. Segundo quatro autoridades ouvidas pela Folha de S.Paulo, a oferta depende da adesão voluntária das operadoras, e ainda há etapas de análise que tornam improvável a execução imediata em larga escala.
O edital de credenciamento foi publicado apenas em 11 de agosto, três dias antes da cerimônia em Recife. Até o momento, o ministério não divulgou a lista de operadoras inscritas nem o volume de procedimentos que cada uma pretende disponibilizar, embora afirme que a Hapvida já esteja formalmente credenciada.
A empresa, em nota, declarou que sua participação será ampliada gradualmente. “O modelo permite disponibilizar infraestrutura e especialistas conforme a necessidade local, garantindo capilaridade e eficiência”, informou a operadora.
Além das operadoras de planos de saúde, o programa prevê que hospitais e clínicas privadas troquem dívidas federais por atendimentos. Segundo o Ministério da Saúde, 130 estabelecimentos já apresentaram propostas dentro desse eixo. Também estão em andamento projetos de carretas itinerantes para atendimento em áreas remotas e medidas para ampliar a presença de especialistas no SUS.
As entidades representativas do setor privado consideram a iniciativa positiva. Para Gustavo Ribeiro, presidente da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), a medida abre espaço para uma “integração necessária entre os sistemas público e privado”. Já Bruno Sobral, diretor-executivo da FenaSaúde, afirmou que o programa “reforça o caráter complementar da saúde suplementar ao SUS” e pode ajudar a reduzir a fila de espera na rede pública.
Apesar da recepção favorável, a concretização da proposta ainda depende da adesão efetiva dos planos. Até lá, o programa lançado com holofotes em Recife segue restrito ao gesto simbólico dos primeiros oito atendimentos.
Fontes consultadas: Ministério da Saúde; Folha de S.Paulo; Agência Brasil; notas oficiais da Hapvida, Abramge e FenaSaúde.
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