Ele não chega. Ele irrompe. Paredes curvam-se, chão escorrega, cores vomitam sentidos. Cada traço é um atentado, cada silêncio um golpe de marreta na percepção. O tempo dobra sobre si, tropeça, perde fôlego, e você percebe que nunca existiu cronologia, só labirinto de ruídos e ecos que mordem os olhos.
As palavras se recusam a obedecer. Formam nódulos, se entrechocam, desferem sentidos que você sente antes de compreender. Cada gesto é radicalização do instante, cada cor é contravenção. O público não observa; ele vive. O ordinário se curva, o previsível se retorce. E no centro, o artista, alquimista de caos, ri. Ou murmura. Ou ambos.
Não há beleza esperada. Não há narrativa linear. Há implosão de lógica, explosão de percepção, fricção entre o que é e o que poderia ter sido. Uma linha que se dobra, um som que rasga a frequência, um silêncio que grita mais alto que qualquer aplauso. Tudo é laboratório de imprevisibilidade.
O artista é cartógrafo do incognoscível. Ele traça mapas de impossibilidades, redesenha mundos onde gravidade é opção, consistência é piada e coerência é armadilha. Cada obra é um teste: sobrevive quem entende o que não se entende. Quem tenta racionalizar, quebra-se. Quem sente, quase desmaia.
Neologismos nascem sem aviso. Ideias se atropelam. Metáforas se digladiam e o fluxo escapa. O espectador que se atreve a acompanhar experimenta deslocamento sensorial, mental, temporal, talvez espiritual, mas sem crença. Ele cai, levita, cai de novo. E então entende que não há destino, só risco estético calculado.
Arte não se consome. Arte é convulsão. É deformar o mundo para ver se ele ainda funciona. O artista não ensina. Ele implanta implosivos de sentido. Cada gesto é ameaça, provocação, convite: “tente sobreviver ao que você ainda nem percebeu”.
E no final, sobra o efeito. O choque. O vazio que pulsa com inteligência, absurdo e audácia. Ele desaparece entre traços e ecos, deixando o mundo instável, desordenado, incompleto e você, ainda vivo, finalmente desperta para o caos que ele domina.
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