Tic…tac…fora: caos, buzinas, vozes, compromissos.
Dentro: domingolatria. Silêncio. Altar de sofá. Manta sagrada. Café ritual.
O celular? Sequestrado pelo modo avião. Notificações são fantasmas que não me alcançam.
Respirar devagar. Devorar o tempo sem mastigar responsabilidade.
Os minutos se esticam, se dobram, se curvam. Os segundos se curvam.
O ar se curva e treme. A parede sussurra. A luz entra como confissão.
Nenhuma pressa, nenhuma obrigação. Aqui, o mundo se fragmenta e se dissolve.
Gestos: esticar braço, enrolar manta, levantar xícara. Atos de soberania sobre o nada.
Pensamentos tropeçam, evaporam, ressurgem em neologismos: preguiçóptero, cochilópole, devoradia.
Sons: vento = sinfonia. Porta = aplauso. Respiração = batidas suaves.
Tudo acontece e nada importa. Domingolatria: mastigar horas como chiclete, cuspir silêncio como ouro.
A preguiça se torna ciência. O ócio, arte. A casa, cosmos.
Lá fora: urgência, pressão, ansiedade.
Aqui: vitória. Trono de almofadas, império de quietude, universo de nada.
Quando o sol se despede, há triunfo. Sobrevivi à loucura. Engoli o mundo sem sair do sofá.
Domingo, devorador de caos, você reina absoluto.
Comente sobre o post