Se você nasceu entre os anos 70 e 90, é provável que tenha repetido essa frase como mantra natalino. A Caloi não era apenas uma bicicleta, era o vestibular da infância. Passava de fase quem ganhava. Quem não ganhava, pedalava no ferro-velho do vizinho, com corrente enferrujada e o banco arrumado com fita isolante.
A história, curiosamente, começa bem antes do trauma coletivo. Luigi Caloi desembarcou no Brasil em 1898 e abriu uma oficina em São Paulo. No início, atendia só os engravatados do Clube Atlético Paulistano. Depois, com a Segunda Guerra Mundial dificultando importações, seu filho Guido improvisou uma fábrica no Brooklin. O improviso deu tão certo que a Caloi virou a primeira indústria nacional de bicicletas (Fonte: Museu da Pessoa e acervo histórico da própria Caloi).
O boom veio nos anos 70, quando a empresa lançou a Caloi 10. Dez marchas. Dez formas de humilhar quem só tinha um aro 20 com freio de tambor. O modelo virou símbolo de status adolescente: enquanto uns chegavam na escola pedalando sua magrela importada de Manaus, outros vinham a pé, fingindo que “esporte radical mesmo era jogar bola na rua”.
Teve de tudo: a Ceci, “para mulheres” (como se bicicleta tivesse gênero); a Cross Extra Light, em cores berrantes, que transformou meninos em pilotos de BMX de quintal; e a eterna Barra Forte, tanque de guerra sobre rodas, que sobrevive a quedas, enchentes e provavelmente ao apocalipse zumbi.
Nos anos 90, a família vendeu a maior parte da empresa ao empresário Edson Vaz Musa (ex-Rhodia, ex-tudo). Décadas depois, a canadense Dorel Industries assumiu de vez, colocando a Caloi no mesmo guarda-roupa que Cannondale e Schwinn (Fonte: Estadão e site institucional da Caloi).
Hoje a marca investe em bikes elétricas, carbono, modelos fitness. Mas, convenhamos, nenhuma supera o poder simbólico da frase que virou bordão publicitário em 1978: “Pai, não esquece a minha Caloi”.
Spoiler: ele esqueceu.
Comente sobre o post