Houve um tempo em que o Brasil acreditava que ritmo era sinônimo de bossa e sofisticação só vinha do Rio de Janeiro. Então apareceu um paraibano magricela, de Alagoa Grande, que provou o contrário batendo pandeiro como quem contava piada de beira de feira. Jackson do Pandeiro não apenas “representou o Nordeste”, expressão gasta que ele próprio provavelmente tiraria sarro, mas virou um dos arquitetos da música popular brasileira.
Coco, baião, xaxado, rojão: o cardápio era vasto e Jackson misturava tudo sem pedir bênção a ninguém. Enquanto os doutores da música classificavam estilos e tentavam organizar a bagunça sonora do país, ele já fazia tropicalismo sem saber, com sua divisão rítmica tão ousada que até Caetano e Gil se declararam devedores. Alceu Valença, Elba, Lenine e Maria Bethânia também confessam: Jackson lhes ensinou que música se faz com liberdade e com malícia.
Chamaram-no de “Rei do Ritmo”, e acertaram. Mas, no fundo, Jackson foi mais do que um título honorífico: foi um cronista popular que traduziu o Nordeste não pela folclorização, mas pela ginga debochada, onde cada batida era uma provocação ao eixo cultural dominante. Enquanto o Brasil discutia o que era moderno, ele já estava no futuro, com um pandeiro debaixo do braço e um sorriso de canto de boca.
Se há algo a aprender com Jackson do Pandeiro é simples: o Nordeste nunca precisou de passaporte para entrar na música brasileira. Quem não entendeu isso, perdeu o compasso.
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