Na noite chuvosa de 5 de setembro de 1958, o Curtiss C-46 Commando da Lóide Aéreo tentava pousar no aeródromo de Campina Grande quando perdeu altitude e colidiu com uma elevação próxima à atual BR-230, no Serrotão. Daqueles 45 passageiros, 13 não resistiram, entre elas, passageiros e tripulantes cujas vidas foram interrompidas abruptamente. Entre os sobreviventes, um jovem estudante de Direito de 23 anos, Renato Aragão.
Renato, recém-vindo de Recife após uma experiência nos Jogos Universitários, se agarrou à vida, literalmente. Promessa do humor brasileiro, ele narrou em entrevistas posteriores que ficou preso à fuselagem, de cabeça para baixo, atravessando cenas de destruição: “Era pancada, cadeira voando… Vi muita gente morta, muita gente ferida”.
A sobrevivência teve contornos quase folclóricos: saqueadores armados com facões emergiram da mata retorcendo alianças dos corpos. Renato e um colega andaram por horas até encontrar ajuda, numa caminhada que transformou o caos do acidente em fuga desesperada rumo à salvação.

O acontecimento impactou a cidade a ponto de transformar o dia 6 de setembro em feriado municipal, em memória aos campinenses mortos na tragédia. No local exato do sinistro, ergueu-se uma pequena capela, apelidada de “Capela do Avião” ou “Capela das 13 Almas”, erguida à margem da rodovia como altar em honra às vítimas e testemunha da fragilidade da vida.
Se Renato não houvesse sobrevivido, o Brasil talvez jamais tivesse conhecido o humor de Os Trapalhões. A tragédia, então, virou ponto de reflexão: um salto que poderia ter sido o fim virou um renascimento, que mudaria para sempre o humor nacional.
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