Imagina a cena: anos 1960, Maceió. Um adolescente chamado Djavan Caetano Viana, cheio de pernas e sonhos, correndo pelo campo do CSA. Meio habilidoso, tinha futuro quase promissor. Mas aí, num lampejo de genialidade prática, percebeu o óbvio: futebol exige correr demais. O violão, não. E foi assim que o Brasil perdeu um jogador mediano e ganhou um músico genial.
Filho de lavadeira, criado ouvindo rádio de pilha e mãe cantarolando Ângela Maria, Djavan não quis saber de chuteira. Decidiu que era melhor inventar acordes do que disputar bola no barro. Aos 23 anos, desembarcou no Rio de Janeiro com a cara, a coragem e um ouvido que misturava samba, jazz e bossa como quem faz feijoada de domingo.
Logo apareceu em festivais de música, ganhou holofotes, e no disco de estreia já mostrou a que veio: letras que soavam como poesias e harmonias que deixavam até músicos de conservatório com cara de interrogação. Depois, chamou Stevie Wonder pra soprar uma gaita em “Samurai” — porque, afinal, por que não?
Se tivesse seguido no futebol, talvez fosse só mais um reserva esquecido nos anos 1970. Mas não: Djavan escolheu virar o homem que compôs “Oceano”, “Flor de Lis” e “Sina”. Enquanto os colegas de posição no CSA talvez vendessem seguros ou virassem técnicos do sub-15, ele rodava o mundo, ganhava Latin Grammy e montava sua própria gravadora.
E o melhor: nunca abriu mão do penteado trançado, marca registrada desde os tempos em que chutava bola no campinho de Maceió. O cabelo resistiu a modas, ditaduras musicais e até ao sertanejo universitário.
Moral da história: o Brasil perdeu um meio-campo cansado, mas ganhou um maestro que reinventou a MPB com swing africano, harmonia de jazz e poesia de quem sempre preferiu rimar a suar. Sorte nossa.
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