Água quente, ácida, saturada de gases e partículas vulcânicas. Um cenário onde se esperaria apenas silêncio mineral e plumas de enxofre. Ainda assim, em 2015, uma expedição liderada pelo engenheiro oceanográfico Brennan Phillips, em parceria com a National Geographic e pesquisadores das Ilhas Salomão, registrou algo improvável: tubarões nadando dentro do vulcão submarino Kavachi, um dos mais ativos do Pacífico Sul.
A missão, planejada para estudar a atividade hidrotermal, utilizou câmeras submersíveis programadas para filmar por apenas uma hora. O risco de erupção era real. O material revelou águas-vivas, pequenos peixes e, por fim, os protagonistas inesperados: tubarões-martelo (Sphyrna lewini) e tubarões-seda (Carcharhinus falciformis), nadando em grande número na cratera.
O registro abriu uma série de perguntas ainda sem resposta. Como espécies de topo de cadeia conseguem sobreviver em um ambiente instável, com dióxido de carbono e metano borbulhando do fundo, temperaturas elevadas e acidez que afastaria a maioria da fauna marinha? Estariam desenvolvendo mecanismos fisiológicos para suportar essas condições? Ou apenas arriscam até o último segundo, sem prever a próxima erupção?
“Se o vulcão decidir explodir, eles não terão chance”, admitiu Phillips em entrevista. “A questão é: eles percebem algum sinal de que isso vai acontecer? Ou simplesmente continuam nadando até que a natureza decida?”
O Kavachi segue ativo, expelindo lavas e alterando a cor do mar ao redor. E os tubarões, agora estrelas involuntárias do chamado “Sharkcano”, continuam a ser o lembrete inquietante de que a vida marinha pode ser muito mais resiliente e enigmática do que supunham os livros de biologia.
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