O algodão foi durante décadas a espinha dorsal econômica paraibana. Um trabalho de José Batista de Lira Neto (Mestre e Doutor em História), “A era do ouro branco em Ingá-PB: caminhos da modernidade e declínio da economia algodoeira (1920-1983)”, relata que, na primeira metade do século XX, o cultivo sustentou não apenas a agricultura local, mas também estruturas urbanas e logísticas em municípios como Ingá, com forte relação com Campina Grande, que atuava como “exemplo da ascensão algodoeira da Paraíba”. Lira Neto registra que o bicudo-do-algodoeiro foi o gatilho para uma crise sistemática, que se intensificou com secas e a oscilação de preços internacionais, levando ao abandono gradual das lavouras e ao êxodo rural.

Pesquisadores ligados à Embrapa Algodão e à Empaer reforçam que o modelo produtivo antigo utilizava variedades arbóreas, semiperenes, que favoreciam a permanência do bicudo, pois ele encontrava alimentação contínua. Luiz Paulo de Carvalho (Agrônomo, Mestre e Doutor em Genética e melhoramento), da Embrapa, já explicou que essas variedades arbóreas tornavam o controle da praga mais difícil: “o bicudo tinha alimentação praticamente o ano todo e era difícil combatê-lo”.

As pesquisas de melhoramento genético tentaram responder a esse desafio. Variedades de algodão herbáceo, precoces e resistentes, fibras naturalmente coloridas, foram desenvolvidas para diminuir dependência de tingimento e aumentar valor de mercado. A Embrapa lançou cultivares como BRS 200 (creme) e outras com cores como marrom e verde que, de acordo com Carvalho, traziam vantagens ao produtor tanto econômica quanto ambiental.

No esforço de recuperação, destaca-se o Projeto Algodão Orgânico Paraíba. Relatórios governamentais indicam que em 2024, o projeto beneficiava 367 famílias em 451 hectares de algodão orgânico, branco e colorido, com produção de 162 toneladas de algodão em rama e pluma, gerando R$ 852.686 de renda estadual, cerca de R$ 2.300 por família. O diretor de Assistência Técnica da Empaer, Jefferson Morais, ressalta que “o crescimento da cadeia produtiva do algodão orgânico na Paraíba se destaca pela sua capacidade de criar valor agregado, integrando agricultores a mercados nacional e internacional.”

Outra iniciativa relevante é a parceria entre Empaer e Embrapa no cultivo agroecológico em locais como a Agrovila Águas de Acauã, em Itatuba, no Vale do Paraíba. O pesquisador Felipe Guimarães, segundo publicação oficial, ficou “impressionado com o nível de conscientização dos agricultores quanto ao sistema de produção, que apresenta resultados positivos”.
Há também esforço técnico no manejo integrado de pragas e na adoção de práticas compatíveis com o semiárido. Por exemplo, as pesquisas em ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) conduzidas por Embrapa Algodão e Empaer, além de unidades de referência tecnológica, buscam combinar produção de alimentos e pastagens com reflorestamento, conservação do solo e controle biológico de pragas. José Geraldo Di Stefano, da Embrapa Algodão, afirma que essas estratégias são essenciais para enfrentar os efeitos da praga do bicudo e melhorar a sustentabilidade das lavouras.
Esses estudos, depoimentos e iniciativas apontam que a história do algodão na Paraíba não é apenas uma sequência de apogeu e ruína, mas um campo de tensão entre memória, ciência aplicada e inovação social. Como Lira Neto observa, “o algodão trouxe tantos benefícios para [Ingá], mas não é devidamente explorado como identidade cultural dessa sociedade.” Esse reconhecimento , cultural, econômico e institucional, parece ser agora o novo terreno de luta e esperança para agricultores, técnicos e pesquisadores paraibanos.
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