O medo financeiro é como uma sombra que se alonga sem pedir licença. Não se vê na tela do banco, não se escuta em notificações de pagamento, mas está lá, quieto, observando cada decisão, cada passo em falso. Ele não anuncia sua chegada; chega sussurrando que você não dará conta, que a próxima conta será demais, que o salário nunca será suficiente. É nesse terreno silencioso que muitos encontram o álcool como refúgio. Um gole parece capaz de silenciar o coração acelerado, de adiar a conversa desconfortável com a própria consciência.
No entanto, a promessa de alívio é traiçoeira. Cada copo, que se oferece como ponte sobre a insegurança, se transforma em mais um tijolo na parede da ansiedade. As dívidas crescem, a ressaca mistura-se à culpa e a sensação de impotência se fortalece. O que era alívio se revela armadilha: o medo não desaparece, apenas se adia, e o amanhã retorna com força redobrada. É um ciclo silencioso, uma bola de neve que ganha velocidade à medida que tentamos escapar do presente.
Há, porém, um instante que parece pequeno, mas carrega peso decisivo. É o momento em que se olha para o extrato, para as contas atrasadas, e se percebe que o copo não resolve nada. Reconhecer a própria vulnerabilidade não é sinal de fraqueza, mas de coragem. É nesse ponto que a sobriedade deixa de ser apenas abstinência e se transforma em ferramenta de reconstrução. Cada decisão consciente, cada passo sem fuga, devolve a clareza para enfrentar o que realmente importa.
Parar de beber não é apagar o medo, ele continua rondando, como sempre esteve, mas aprender a ouvi-lo sem se ajoelhar diante dele. É aprender que ele é mapa, não prisão. A sobriedade oferece a possibilidade de enxergar o que precisa de cuidado, de atenção, de ação. É o primeiro passo para retomar o controle, mesmo que parcial, da própria vida.
O medo financeiro, assim como a dependência, ensina lições duras sobre responsabilidade, paciência e autoconhecimento. Dói, cansa, exige persistência. Mas, ao encarar essa dor sem recorrer à fuga, descobre-se algo maior: que nenhuma dívida, nenhuma conta atrasada, nenhuma ameaça futura, é capaz de superar o valor de estar inteiro. E nesse espaço de reconstrução, a vida, mesmo que cheia de incertezas, se mostra novamente como possibilidade, e não como ameaça.
*Texto criado após uma justificativa sólida de um alcoolista
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