Hermeto Pascoal morreu em 13 de setembro de 2025, aos 89 anos, cercado pela sua família e companheiros de música, deixando uma obra que parece desafiar qualquer definição fixa.
A repercussão internacional não tardou: para a BBC, o Guardian ou qualquer aficionado por jazz ou música experimental, Pascoal foi lembrado como “feiticeiro” ou “mago dos sons”, títulos que, embora poéticos, mal arranham a dimensão do que ele fez. O New York Times, por meio de textos como o de Larry Rohter, enfatizou sua excentricidade e a prolífica capacidade criativa: foram décadas de invenção sonora, mistura de gêneros, objetos inusitados virando instrumentos e improvisações que pareciam dialogar com o mundo natural.

Ted Gioia, crítico musical respeitado, em sua newsletter, foi além do elogio convencional: chamou Hermeto de um de seus heróis, o “homem mais musical do mundo”. Não por acaso. Pascoal compôs milhares de peças, experimentou com sons que muitos nem percebem, brincou com potes, bichos, água, vento, tudo se tornou parte da orquestra humana que ele carregava dentro de si.
Nascido em Alagoas e criado em parte entre a natureza, o jovem Pascoal absorveu pássaros, rios, chuviscos, latidos e cantos de feira como quem aprende as primeiras notas. Mais tarde, se negou a ser rotulado: sua música passou por jazz, samba, chorinho, bossa nova, forró, e também por territórios mais livres, quase abstratos, onde o inesperado é regra.
O legado, porém, não se resume às gravações ou às colaborações ilustres, como com Miles Davis, que o convidou a participar do álbum Live-Evil. Ele influenciou gerações. Inspirou quem queria quebrar barreiras, quem acreditava que música pode nascer de qualquer lugar: de um canto esquecido, de um objeto comum, do silêncio curtido antes da tempestade.

No fim, o que impressiona é a alegria radical de existir em cada nota de Hermeto. Ele partiu, mas deixou importante lembrança: criar não é uma escolha de quem busca aplauso, é um caso de amor, de curiosidade, de insurgência.
Que sua música continue soando (e continua), nos discos, nas memórias, nos rituais espontâneos de quem escuta um copo, uma colher ou o vento e vê ali um insubmisso concerto.
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