É como se o ar ao redor de nós, de repente, tomasse forma. A primeira nota soa e, antes que a mente compreenda, o corpo já se rende: um arrepio. Quase invisível, mas inconfundível. Como uma corrente elétrica percorrendo os nervos, uma maré de sensações, que vai da pele ao pensamento e volta. Um calafrio que não é de frio, mas de algo muito mais profundo, como se a música fosse um portal para lugares que, até então, eram apenas poeira e memória.
Naquelas frações de segundos, você não ouve mais apenas o som. Você sente. Sente o que não está nas palavras ou nas melodias, mas naquilo que existe entre elas. O som se faz palpável, e é como se o tempo desacelerasse só para que você pudesse apreciar o milagre de estar vivo naquele exato momento.
O cérebro, esse grande maestro, orquestra esse espetáculo. De um lado, a amígdala, com suas emoções cruas e irracionais; do outro, o núcleo accumbens (ativador de preferências), que toca as cordas do prazer. O hipotálamo, esse esquivo observador, regula a tempestade emocional. E então, você sente. Algo dentro se move, e não há lógica, nem razão. Apenas o fluxo da música, conduzindo cada parte de você.
Mas nem todos dançam esse balé com a mesma intensidade. Para alguns, a música é uma melodia ao vento, um fundo qualquer. Para outros, é a essência do universo, o código que organiza os átomos e une os corações. Não se trata de gostos, mas de como fomos moldados. Como a nossa história, nossa bagagem secreta, afina a nossa percepção.
O que faz um acorde soar como um abraço apertado e outro como um sussurro distante? A resposta está nas camadas da nossa alma, forjadas pela vida, pela arte e, talvez, pelas dores que já sentimos e pelos amores que nunca esquecemos. Cada nota é um reflexo daquilo que fomos, do que já passamos, do que já amamos.
E à medida que a ciência vai descobrindo o que acontece dentro de nós, as imagens do cérebro se tornam mais claras: aquele arrepio é uma troca entre o que o mundo oferece e o que nós carregamos de mais íntimo. A música, então, não é só som. Ela é a chave que abre portas. E quem sabe, talvez nos faça entender um pouco mais sobre o que realmente nos toca.
Porque, no fim, o arrepio não é apenas um sintoma. Ele é a prova silenciosa de que estamos vivos, de que, apesar de tudo, algo ainda é capaz de mexer com a nossa essência. Um acorde, uma lágrima, um suspiro…talvez isso seja o que realmente significa ser tocado pela música.
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