Em 1945, o Brasil estava à beira de uma conquista diplomática histórica: um assento permanente no Conselho de Segurança da recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). Embora essa ambição não tenha se concretizado, o país desempenhou um papel crucial na fundação da ONU,
Durante a Conferência de São Francisco, que ocorreu entre abril e junho de 1945, o Brasil foi cogitado para ocupar uma sexta cadeira permanente no Conselho de Segurança, ao lado das potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, França e China. Essa proposta refletia o reconhecimento internacional da importância estratégica do Brasil na manutenção da paz mundial.
No entanto, a ideia encontrou resistência entre os membros permanentes existentes, que temiam diluir seu poder de veto. A morte do presidente Franklin D. Roosevelt, em abril de 1945, também enfraqueceu o apoio à causa brasileira. Como resultado, o país não obteve a almejada cadeira permanente, mas conquistou o direito de discursar primeiro na Assembleia Geral da ONU, uma prerrogativa simbólica que permanece até hoje.
Entre os delegados brasileiros, destacou-se Bertha Lutz, cientista, feminista e ativista pelos direitos das mulheres. Ela foi uma das quatro mulheres entre os 850 participantes da conferência e desempenhou um papel fundamental na inclusão da igualdade de gênero na Carta da ONU. Lutz conseguiu que a frase “a igualdade de direitos entre homens e mulheres” fosse incorporada ao preâmbulo do documento, estabelecendo um precedente importante para os direitos das mulheres no cenário internacional.
Apesar da não obtenção do assento permanente, a participação ativa do Brasil na fundação da ONU consolidou sua posição como líder regional e defensor do multilateralismo. A atuação de Lutz, por sua vez, deixou um legado duradouro na luta pelos direitos das mulheres, embora seu papel tenha sido reconhecido de forma mais ampla apenas décadas depois de sua morte.
A história da participação brasileira na criação da ONU é um testemunho da diplomacia estratégica e do ativismo social. Embora o país não tenha alcançado o status de membro permanente do Conselho de Segurança, sua influência na formação da organização e no estabelecimento de princípios fundamentais, como a igualdade de gênero, permanece um marco na história internacional.
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