Deus fez o mundo em seis dias. Descansou no sétimo. No oitavo, retomaria o trabalho, esboçando as regras que regulariam a vida em sociedade dos descendentes do primeiro casal. Mas ele estava cansado. O diabo assumiu. E fez a política à sua imagem e semelhança. As eleições municipais de 2024 ainda nem chegaram, mas parece que os desígnios do ‘tinhoso’ já vêm sendo levados às últimas consequências no PT em João Pessoa.
Seja qual for o resultado da reunião do dia 6 de maio, data aguardada para a executiva nacional do PT bater o martelo sobre as eleições na capital paraibana, o veredito será extremamente contestado por uma das partes. Hoje, não há o mínimo de consenso na legenda.
A realidade que está posta é: o PT tem na mesa uma dura queda de braço entre o ex-governador Ricardo Coutinho e o atual governador Joäo Azevedo. O embate se tornou sanguinário e o partido sairá rachado em qualquer circunstância.
As declarações da deputada estadual Cida Ramos, que ficou sem fichas no jogo, afirmando que poderá acompanhar Cícero Lucena se for essa a decisão do PT, intensificaram a guerra nos bastidores, em Brasília, entre os grupos do ex-governador e do atual.
Ricardo Coutinho tem feito um esforço hercúleo para que o PT lance o deputado estadual Luciano Cartaxo como candidato a prefeito, tese reforçada pelo deputado federal Luiz Couto. Já o governador João Azevedo conta com o apoio irrestrito do presidente estadual, Jackson Macedo, que declarou guerra a Ricardo e Luciano, buscando o tempo de televisão e rádio da federação “Brasil da Esperança”, com PV e PCdoB, para reforçar a candidatura de Cícero Lucena, que manterá o PSB na chapa com o atual vice-prefeito, Léo Bezerra.
Ambas as possibilidades, de candidatura de Luciano Cartaxo ou de aliança com Cícero Lucena são reais. O atual prefeito tem sido pragmático ao prometer apoio a reeleição de Lula caso o apoio do PT chegue no primeiro turno.
O PT, aliás, é o único partido que ainda não se definiu em relação a Joáo Pessoa. Todo mundo já se decidiu, menos o PT. É o eterno fascínio pelo risco.
Marcaram uma prévia para depois a cancelarem, procrastinaram a decisão sobre o nome indicado, tensionaram o processo deixando crescer a tese de aliança com Cícero e, por efeito de todas as trapalhadas, provocaram um racha que tende a ser ainda mais aprofundado após o dia 6 de maio. Já se fala até na hipótese de um novo Anísio Maia para judicializar o processo.
Os candidatos a vereador, que mais vão “ver a dor”, estão completamente perdidos com o barco a deriva e quanto mais o PT demorar, mais ele vai sangrar.
De fato, o partido foi inconsequente e deveria ter tomado a decisão muito lá atrás, de forma indolor, mas não a tomaram porque temem encarar a parte contrariada. Quanto maior a demora, maior a sofreguidão.
Como diria Lulu Santos: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”.
Por Ytalo Kubitschek