Uma troca de mensagens atribuída a um líder da facção e a Janine Lucena, secretária de Saúde de João Pessoa e filha do prefeito e candidato à reeleição na cidade, Cícero Lucena (PP), sugere um acordo entre eles de troca de cargos por acesso a comunidades comandadas pelo crime.
O UOL teve acesso exclusivo às mensagens que foram interceptadas durante uma investigação de um suspeito de tráfico de drogas em julho de 2022, período de pré-campanha eleitoral, pela força-tarefa formada por Ministério Público e as polícias Militar, Civil e Federal da Paraíba.
No documento, são transcritas dezenas de mensagens de um número atribuído a Janine com Jossiênio Silva dos Santos, também conhecido como Ênio Chinês, apontado como conselheiro da Nova Okaida, considerado o grupo criminoso mais forte do Estado.
As informações foram retiradas após apreensão do celular de Ênio (leia o diálogo completo abaixo).
Segundo apurou a coluna, Ênio foi detido no último dia 3 de maio após pedido de prisão preventiva da 2ª Vara de Entorpecentes da Comarca de João Pessoa.
A conversa integra a operação Mandare, em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão na Paraíba em maio deste ano — entre eles contra Janine — para apurar uma suposta atuação da Okaida no poder público municipal. As investigações ainda estão em curso e seguem sob sigilo. O caso está em segredo de Justiça.
O que diz o diálogo
A conversa entre os dois ocorreu em 25 de julho de 2022. Segundo o documento obtido pelo UOL, ela “retrata acordo e o beneficiamento de pessoas ligadas a ele como exigência para o trânsito em comunidades sob seu domínio”.Nas mensagens, Ênio reclama que quer melhores salários para a esposa e a filha e cobra uma ajuda de custo. Ênio diz ser “dono” de comunidades e avisa a Janine que pessoas estariam “barradas” de entrar nas comunidades até resolver a situação.Em resposta, o número atribuído a Janine diz que “cumpriu o acordo” e estava tratando da nova reivindicação com uma pessoa chamada Patrícia, identificada pelos policiais como esposa de Ênio, e irmã de outros dois membros da facção.
No relatório, as autoridades informam que Patrícia tinha cargo de auxiliar de sala de aula desde junho daquele ano, e em junho de 2022 recebeu salário bruto de R$ 1.679,13. Já a filha tinha cargo de auxiliar administrativo com salário de R$ 2.658,17 no mesmo período. Nenhuma das duas segue nos cargos.