Em pleno 2025, vender o olhar parece uma metáfora sofisticada, mas, em São Paulo, virou uma cena cotidiana. Filas longas se formam em frente aos pontos de escaneamento para o World ID, projeto liderado por Sam Altman, CEO da OpenAI. Uma troca? Uma imagem de sua íris por cerca de R$ 700, pagos em worldcoins, a criptomoeda que que está entre as 70 mais valiosas do mundo.
A promessa é simples: criar um “passaporte de humanidade” que diferencie pessoas de robôs na internet. Uma solução brilhante para um problema moderno, mas que levanta questionamentos profundos. Afinal, quanto vale seus lindos olhos?
O dispositivo Orb, uma espécie de bola de cristal de alta tecnologia, é responsável por capturar dados da íris, ou equivalente a uma parte do seu DNA. A Tools for Humanity, empresa por trás do projeto, jura que tudo é seguro, mas não é difícil imaginar uma ironia: enquanto você pega seus R$ 700, entrega um pedaço essencial de si para uma BIG TECH com sede em… onde mesmo?
Olho gordo ou pé atrás?
Por aqui, a narrativa é outra. Em tempos de economia tensos, o incentivo financeiro brilha como ouro para quem precisa pagar o boleto de amanhã.
Mas, por trás dos números, há um debate ético engatinhando. Qual o custo real de entregar algo tão íntimo por um buraco de moedas digitais? “É um jeito rápido de ganhar dinheiro, mas ninguém sabe o que acontece com esses dados depois”, comenta Rafael Souza, um dos participantes.
Privacidade em baixa, lucro em alta
Enquanto isso, nas redes sociais, o assunto divide opiniões. “Se for pra pagar as contas, dou até outro olho!”, brincou uma internauta. Outros não parecem tão engraçados: “Isso é vender a alma pro diabo, só que o diabo agora tem Wi-Fi.”
O Brasil, com sua habitual criatividade para driblar crises, achou um jeito inusitado de monetizar até os próprios olhos. Resta saber se, no fim, a barganha valerá a pena — ou se a gente vai terminar abrindo os olhos e vendo um buraco negro.
Por Hermano Araruna