No coração do Agreste paraibano, na zona rural de Remígio, repousam ruínas que testemunham um dos capítulos mais sombrios da escravidão no Brasil. O pesquisador e jornalista Laurentino Gomes trouxe à luz evidências de que, no século XIX, essa região abrigou uma fazenda dedicada à reprodução sistemática de pessoas escravizadas.
O responsável por essa prática era o comerciante português Francisco Jorge Torres, que se estabeleceu na Paraíba no início do século XIX. Em sua propriedade, mulheres escravizadas eram forçadas a engravidar continuamente, enquanto homens selecionados atuavam como “reprodutores”. Após o nascimento, os bebês permaneciam brevemente com as mães antes de serem vendidos como mercadorias.
A fazenda possuía uma estrutura específica para esses partos, conhecida pelos moradores locais como “a maternidade”. Tratava-se de uma casa de pedra com paredes grossas, uma única porta e uma janela gradeada. Pequenos orifícios nas paredes permitiam que os capitães do mato monitorassem o interior, garantindo que nenhum nascimento passasse despercebido.
Laurentino Gomes destaca que essa prática era dissimulada no Brasil, com poucos registros documentais devido à destruição de arquivos e à natureza ilegal da atividade. As informações disponíveis baseiam-se principalmente em relatos orais e registros remanescentes de censos e controles de natalidade das fazendas.
A professora Rilma Suely de Sousa, coordenadora de Ensino Fundamental em Remígio, enfatiza a importância de educar as novas gerações sobre esse passado doloroso. Ela organiza visitas pedagógicas às ruínas da fazenda, afirmando que “é muito importante que esses alunos percebam que o nosso país tem uma identidade negra, tem uma identidade preta que se construiu a partir de povos escravizados”.
As ruínas em Remígio servem como um lembrete silencioso das atrocidades cometidas e da resiliência daqueles que sofreram. Preservar e estudar esses vestígios é essencial para que a história não se repita e para que possamos compreender plenamente as raízes de nossa sociedade.
Por Hermano Araruna
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