Oito de março, Dia Internacional da Mulher. Dados de flores, chocolates e mensagens recheadas de emojis, porque nada diz “respeito” como um 🌹 copiado e colado de um grupo de WhatsApp.
A origem do dia, no entanto, é bem menos decorativa. Se voltarmos no tempo, vamos encontrar mulheres que lutam por direitos trabalhistas, igualdade salarial e, veja só, por não serem protegidas como mobília da casa. Em 1911, o incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, onde 146 trabalhadores morreram trancados porque os patrões entenderam que liberdade demais era um perigo, selou a data como um lembrete perturbador de que ser mulher sempre foi um ato de resistência.
Mas é que chega em 2025 e, em vez de reivindicações e protestos, muitos homens ainda acham que um post no Instagram é suficiente. “Parabéns às mulheres pelo seu dia!”, escreve o tiozão, enquanto a esposa lava a louça do almoço que ele sequer cogitou ajudar. No grupo dos amigos, um manda: “Hoje é dia delas, né? Melhor nem contrariar, hahaha”. Sim, claro. Que sorte. Que elas tenham um dia todinho reservado para não serem interrompidas enquanto falam.
O problema não é uma flor. O problema é quando a flor vem com espinhos invisíveis. Quando o presente é só um agrado para compensar os outros 364 dias de silêncios, de piadas sem graça, de conivência com o machismo disfarçado de tradição. O problema é quando o “respeito” vem apenas no discurso, enquanto, na prática, números de feminicídios seguem crescendo, boletins de ocorrência são ignorados e a violência doméstica é tratada como banalidades.
Homem de verdade não apenas elogia as mulheres em março. Ele as respeita em abril, maio, junho e todos os outros meses. Ele não ri de amigo que “perdeu a cabeça” e bateu na namorada. Ele não faz vista grossa quando uma mulher diz que tem medo de andar sozinha à noite. Ele entende que defender uma mulher não é favor, não é ativismo de ocasião – é o mínimo.
Então, neste Dia da Mulher, se você quer dar um presente, que tal começar com um compromisso? Não de ser um herói de capa (até porque capa voa, e quem na primeira turbulência não serve pra nada), mas de ser decente. De ser um cara que entende que respeito não é concessão, é base. Que flores murcham, gostam de evaporar, mas caráter—ah, esse nunca sai de moda.
Porque no fim das contas, a verdadeira homenagem não está no buquê, mas no gesto. No silêncio que escuta, na voz que denuncia, na atitude que protege. Afinal, um 🌹 hoje é bonito, mas um mundo sem medo para elas? Isso, meu amigo, é irresistível.
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