Em Las Vegas, o relato de Isabella Troncao, 16 anos, ganha contornos de alerta. Após 18 meses utilizando cigarros eletrônicos — primeiro com derivados de maconha, depois com nicotina —, ela recebeu um diagnóstico que poucos médicos esperariam em alguém tão jovem: síndrome de Lemierre, uma infecção bacteriana rara, agressiva, e potencialmente letal, capaz de atingir os vasos sanguíneos e se espalhar rapidamente pelo corpo.
O drama começou com dores no peito, febre alta e dificuldade para respirar. Mas logo o quadro evoluiu de forma crítica. Médicos precisaram intervir às pressas para drenar um litro de líquido acumulado no pulmão esquerdo de Isabella. “Parecia que havia um peso de 22 quilos no meu peito. Eu queria respirar, mas não conseguia inspirar completamente”, descreveu a jovem, em entrevista após deixar o hospital.
A síndrome de Lemierre é incomum. Causada geralmente por uma bactéria que habita naturalmente a boca e a garganta, a infecção costuma ser contida por um sistema imunológico saudável. Mas, em casos raros, ela atravessa essa barreira e atinge veias profundas do pescoço e órgãos vitais. Em Isabella, o uso contínuo dos vapes pode ter contribuído para enfraquecer essa defesa — uma hipótese que especialistas começam a investigar com mais atenção.
Embora não se possa afirmar que os dispositivos eletrônicos foram a causa direta da infecção, a comunidade médica tem observado um número crescente de complicações pulmonares e infecciosas em jovens usuários de vapes. Ao contrário do que muitos imaginam, o vapor inalado carrega substâncias químicas que comprometem os mecanismos naturais de proteção dos pulmões e das vias respiratórias. Isso abre portas para infecções graves, como pneumonias atípicas e, em casos extremos, quadros como o de Isabella.
A história dela se soma a um conjunto crescente de evidências sobre os riscos do uso precoce e prolongado de cigarros eletrônicos. Nos Estados Unidos, o debate sobre a regulação desses dispositivos — especialmente os com sabores e design atrativo para adolescentes — tem ganhado força. E agora, com rostos e histórias reais por trás das estatísticas, a discussão deixa os gabinetes técnicos e ganha as famílias, as escolas e os hospitais.
Isabella se recupera, mas carrega cicatrizes físicas e emocionais. A dor, ela diz, não foi apenas no corpo. Foi no susto, na sensação de impotência, e na consciência de que algo aparentemente inofensivo quase lhe custou a vida. “Se eu soubesse no começo o que sei agora, não teria dado a primeira tragada”, resume.
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