A produção literária do sertão paraibano acaba de cruzar fronteiras e ocupar lugar de destaque em uma das instituições culturais mais prestigiadas do planeta. A Arribaçã Editora, com sede em Cajazeiras, no Alto Sertão da Paraíba, teve doze títulos adquiridos pelo Consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro para compor o acervo da Biblioteca do Congresso, em Washington. A parceria, que já acontece anualmente, consolida a presença da editora nordestina em uma das maiores bibliotecas do mundo, com mais de 170 milhões de itens catalogados.
Entre as obras selecionadas estão títulos que nascem da própria terra. A coletânea “Gênero, Identidades e Culturas: Propostas de educação patrimonial em Cajazeiras”, organizada por Janaína Valéria Pinto Camilo e outros pesquisadores locais, mergulha na construção cultural da cidade e em práticas educativas ligadas à memória. Também integra a lista o livro “A Casa, o Sítio, a Cidade: Pombal. Crônica. Memória”, do escritor Elri Bandeira de Sousa, que percorre afetivamente a cidade de Pombal, articulando vivências pessoais com a história coletiva.
Outro destaque da seleção é “O lugar dos dissidentes”, de João Matias, publicado originalmente pela Editora Escaleras, mas distribuído no Brasil pela Livraria Arribaçã, que funciona na Rua Felismino Coelho, em Cajazeiras. A livraria também opera via site, ampliando o alcance do seu catálogo, que inclui títulos próprios, de outras editoras independentes e produtos artesanais como peças de louça feitas por artistas locais.
Para Lenilson Oliveira, responsável pela editora, o feito carrega mais do que prestígio: “Ter nossas obras na Biblioteca do Congresso dos EUA é um reconhecimento do valor da produção literária do sertão paraibano. É um passo importante para a difusão da nossa cultura além das fronteiras”, afirmou.
A Biblioteca do Congresso foi fundada em 1800 e é, além de espaço de pesquisa, símbolo do interesse internacional por vozes diversas. A inclusão de publicações da Arribaçã no acervo da instituição amplia o alcance da literatura nordestina e reafirma o potencial intelectual de regiões muitas vezes à margem do circuito editorial brasileiro.
O gesto do consulado americano, embora simbólico, mostra que o que se escreve no sertão tem, sim, lugar de escuta no mundo.
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