E no capítulo de hoje da novela “Famosos que não sabem calar a boca”, temos a estrela (?) reluzente que, num lampejo de sabedoria gourmet, resolveu abrir a boca — não pra saborear, mas pra destilar ignorância — e chamou a comida nordestina de lavagem. Sim, você não leu errado. Aquela mesma culinária que já foi elogiada por chefs do mundo inteiro, que carrega história, resistência e sabor, foi reduzida, por uma dançarina sem noção, a algo comparável a resto de porco.
Agora pense comigo: qual será o paladar refinado dessa moça? Caviar vencido no pão de forma sem casca? Sushi de rodízio terça-feira à noite? Nuggets gourmet com glitter? Seja lá o que for, é muito sal para pouca cabeça.
Não estamos falando apenas de um comentário infeliz — coisa que, vá lá, acontece até com quem tem neurônio de sobra, o que não é o caso de Bianca Alencar (ilustre desconhecida). Estamos falando de um ataque velado (ou nem tanto) à cultura nordestina. Porque quando se debocha da comida de um povo, está se debochando da sua história, da sua luta, da sua resistência. Do mingau de milho que acalentou crianças famintas. Da macaxeira que sustentou famílias inteiras. Do feijão verde temperado com o que se tinha — mas feito com afeto de sobra e tantas outras comidinhas maravilhosas que temos por aqui.
E por falar em afeto, talvez esteja aí o ingrediente que faltou no prato da cantora/dançarina: empatia. Porque quem tem um mínimo dela, evita vomitar preconceito por aí. Quem tem respeito, aprende antes de julgar. Quem tem repertório, sabe que a cultura nordestina alimenta muito mais do que estômago: alimenta alma, palco, letra de música, e até carreira de artista que vive tentando se reinventar com sotaque alheio.
A ironia maior? É que, se ela pudesse engarrafar metade da força de um baião de dois, vendia mais que álbum em streaming. Mas não dá: comida de verdade não cabe no estômago raso de quem nunca teve que se levantar às cinco pra buscar água no balde, nem sabe o que é fazer da panela vazia uma obra de arte saborosa.
A cozinha nordestina é feita de sol, suor e poesia. Quem chama isso de lavagem, só pode estar com o paladar — e a cabeça — entupidos de arrogância. Que sirva de lição: ignorância não é tempero, e preconceito não se disfarça com voz (des)afinada.
Agora com licença, que vou ali comer um peixe cozido com os pés na areia, que alimenta mais que qualquer música vazia.
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