Enquanto um foguete da SpaceX levanta voo, entrega satélites a órbita, toma um café e pousa verticalmente com a graça de um dançarino russo, lá no outro lado do mundo, no Monte Rinjani, na Indonésia, equipes de resgate lutaram contra a gravidade com cordas, suor e fé para resgatar o corpo de uma jovem brasileira.
Juliana Marins, publicitária, 26 anos, caiu em uma cratera de 300 metros. Não havia drones autônomos de longo alcance, nem helicópteros com inteligência artificial, nem sensores térmicos de última geração — só seres humanos tentando fazer o que, aparentemente, a humanidade ainda não priorizou: salvar… outros humanos.
Porque, sejamos francos: colocar um foguete em Marte virou quase rotina. Mas montar uma operação de resgate com agilidade tecnológica ainda parece ficção científica. Aliás, o futuro já chegou, mas só para quem paga bem. Um milionário que desmaia em um iate no meio do mar será resgatado por helicóptero em minutos. Uma moça perdida numa trilha na Ásia? A morte não esperou o clima melhorar.
E é claro que a desculpa é sempre a mesma: “as condições meteorológicas impediram o resgate aéreo”. Curioso como elas nunca impedem um lançamento da NASA, um míssil teleguiado acertar um quarto de apartamento a 1.700 km. Talvez porque o espaço esteja mais perto dos orçamentos do que a compaixão.
É como se a tecnologia só fosse acelerada quando o objetivo final é lucro, entretenimento ou vaidade. Para vender, ver e vigiar, temos tudo. Para salvar? A fila é grande, o orçamento é curto e a prioridade é outra.
Juliana morreu sozinha no alto de um vulcão. A tecnologia, que deveria estar lá por ela, estava ocupada demais calculando a próxima viagem comercial para a estratosfera. E seguimos assim: desenvolvendo carros que estacionam sozinhos, enquanto vidas continuam dependendo de cordas esticadas por mãos cansadas.
A pergunta que fica não é se podemos fazer melhor. A resposta é óbvia: sim. A pergunta é: por que ainda escolhemos não fazer?
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