Um século se passou desde que Charlie Chaplin lançou Em Busca do Ouro, mas o vagabundo mais famoso do cinema segue desafiando o tempo. O clássico mudo de 1925, restaurado em cópia primorosa, ganhou sessões especiais em salas de cinema por todo o Brasil, convidando o público a redescobrir não só uma obra-prima da comédia, mas também um retrato profundo de humanidade em meio ao absurdo.
No filme, Chaplin encarna mais uma vez seu personagem icônico, agora tentando sobreviver à dura realidade da Corrida do Ouro no Alasca. Com neve, fome e uma cabana prestes a despencar de um penhasco, o vagabundo transforma a tragédia em poesia visual — dançando com pãezinhos, cozinhando o próprio sapato e conquistando o espectador com um misto de melancolia e graça.
Em crítica para a Folha de S.Paulo, o jornalista Inácio Araujo não economizou argumentos para defender o filme como uma aula de cinema. Para ele, Em Busca do Ouro é mais do que comédia física ou pantomima bem executada: é o exemplo de um artista que dominava narrativa, montagem, enquadramento e emoção, tudo a serviço de um personagem que carrega o mundo nas botas gastas.
Ao contrário de tantos clássicos que envelhecem em museus ou cinematecas, Em Busca do Ouro parece se renovar. Talvez porque Chaplin entendeu cedo que, por trás da gargalhada, há sempre uma lágrima escondida — e, convenhamos, isso não passa de moda.
Com a restauração, novos públicos têm agora a chance de se encantar com um filme que, mesmo sem dizer uma palavra, ainda fala muito. E com a nitidez da cópia atualizada, o ouro que Chaplin procurava pode não estar só nas montanhas geladas do Alasca, mas na beleza de contar boas histórias.
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