Se você acha que se informar é abrir um jornal, tomar um café e debater a economia mundial com o gato no colo, bem-vindo ao século errado. Em 2024, a notícia chega com filtro, trilha sonora e às vezes até dublada. O palco principal? Redes sociais. E não pense que estamos falando apenas do Facebook, aquele tiozão da internet que ainda resiste com 26% de usuários semanais. O jogo virou — e o TikTok agora é rei.
Na Tailândia, por exemplo, quase metade da população já usa o aplicativo do “rebolado informativo” para se manter a par dos acontecimentos. São 49% de penetração semanal. Isso mesmo. Quase um em cada dois tailandeses confia mais na “notícia dançante” do que num portal de jornalismo tradicional. E olha que foi um crescimento de 10 pontos em um ano — ou seja, mais rápido que muita CPI.
O Facebook, por sua vez, vive sua aposentadoria precoce. Há dez anos, era o queridinho do jornalismo social. Hoje, caiu na mesma gaveta dos DVDs e do Orkut. Já o Instagram, num movimento mais fashion, segue crescendo e chega a 16%. Nada mal para uma rede que começou com fotos de brunch.
Mas a maior transformação está na lógica do conteúdo. Sai a postagem para “amigos e família”, entra o vídeo viralizado de um “especialista em absolutamente tudo”. Os criadores de conteúdo, os famosos creators, agora são as novas bancas de jornal. Quer saber sobre política externa, inflação, ou o que Lula comeu no almoço? Vá até o influenciador com um ring light e um microfone preso à camiseta.
O problema, claro, é que ninguém entra no TikTok ou no Instagram para ver notícia. A informação, nesses casos, é um acidente de percurso. Você estava lá vendo um tutorial de maquiagem e, de repente, aparece alguém explicando a reforma tributária com emojis e efeitos sonoros. A notícia virou interrupção — e das boas.
E quem perde com isso? O jornalismo profissional, claro. Porque notícia séria não costuma render dancinha. As redações, coitadas, tentam desesperadamente adaptar seus conteúdos a esse novo ritmo, enquanto a audiência prefere um react de cinco segundos ao invés de um editorial com cinco parágrafos. Publicar nas redes virou um dilema: ou você viraliza, ou você informa. Fazer os dois é quase um milagre.
Mas não culpemos apenas os algoritmos. Afinal, se a população está “esbarrando” na notícia, é porque ela parou de procurá-la. O consumo deliberado de informação vem despencando. E isso, meu caro leitor, é um dado que nem o melhor trend vai conseguir suavizar.
A era do jornalismo virou scroll. E entre um vídeo de gatinho e um tutorial de bolo de caneca, talvez — só talvez — você descubra que o Congresso aprovou uma nova lei. Se der sorte, claro.
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