Na Brasília dos bastidores (e das facadas pelas costas bem ensaiadas), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu chamar para uma conversa os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Oficialmente, o encontro não está na agenda do Planalto. Extraoficialmente, está na urgência de conter a sangria institucional provocada pela queda — sem aviso prévio — do decreto que aumentava o IOF.
O episódio, que se desenrolou com mais agilidade do que fila de político em época de eleição, pegou o governo de calças curtas e olhos no feed. Enquanto o Planalto esperava um sinal de fumaça, a Câmara já votava a matéria. Hugo Motta anunciou a pauta às 23h35 de terça… pelo X. O novo Twitter. O antigo bom senso passou longe.
Resultado: 383 votos a favor da derrubada do decreto, 98 contra e um enorme silêncio vindo da base governista, que ainda tentava entender o que estava acontecendo. Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara, soube da bomba pelo celular — o que, convenhamos, é mais uma metáfora perfeita para o atual nível de comunicação entre Executivo e Legislativo.
No Senado, o clima foi semelhante. Em votação simbólica, o decreto também foi pelo ralo. Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo por lá, resmungou sobre acordos descumpridos — o que, na prática, é quase um grito de “mas a gente combinou, poxa!”. Acontece que o Congresso estava mais para ‘rebelião elegante’ do que para parceria institucional.
Davi Alcolumbre, sempre com um discurso na manga, defendeu o Legislativo com um floreio quase lírico: “afirmação do papel constitucional” e “eco dos anseios populares”. Traduzindo: o governo mandou mal, a população não curtiu, e o Congresso aproveitou a deixa pra dar uma resposta — de preferência, no horário nobre.
O Planalto, claro, ficou perdido no meio do tiroteio institucional. A AGU (Advocacia-Geral da União) disse que ainda não sabe se judicializa ou se apenas lamenta em silêncio. Vai decidir depois da “oitiva da equipe econômica” — uma forma rebuscada de dizer que Haddad e cia. estão tentando colar os cacos da estratégia fiscal feita às pressas.
A verdade é que o governo tentou aumentar a arrecadação no piloto automático, confiando que o Congresso seguiria o GPS do “acordo”. Só que o Waze da política mudou de rota. E agora, com a derrubada do decreto, o Ministério da Fazenda fala em congelar até R$ 41 bilhões do orçamento, como se isso não fosse gerar ainda mais atrito com os parlamentares que andam reclamando (e muito) da liberação lenta das emendas.
Entre dancinhas legislativas, decretos atropelados e acordos que evaporam no ar, resta saber se a reunião entre Lula, Motta e Alcolumbre servirá para realinhar as expectativas ou apenas selar, com fotos e tapinhas nas costas, mais um capítulo da comédia política em cartaz no Brasil.
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