Pouca gente sabe, mas a Paraíba guarda em sua memória urbana e cultural marcas profundas da presença britânica. No fim do século XIX, durante o avanço das ferrovias no Nordeste, engenheiros e trabalhadores ingleses desembarcaram no estado para atuar na implantação da Great Western Railway, a companhia que viria a comandar grande parte da malha ferroviária da região. Foi ali, entre trilhos e locomotivas, que começou uma relação discreta, mas duradoura, entre britânicos e paraibanos.
Sobrenomes como Holmes, Smith, Stuart, Stanford e Dore ainda circulam por João Pessoa e cidades do interior, heranças silenciosas dessa convivência. Mas a influência não parou nos nomes: ela está também na arquitetura, nos hábitos sociais e até nos espaços públicos.
A comunidade britânica chegou a manter um consulado e um pequeno cemitério próprio, por razões religiosas. Como anglicanos, seus membros não podiam ser sepultados nos cemitérios católicos. Assim, a Ilha Stuart, no estuário do rio Paraíba, tornou-se o local destinado aos enterros. Hoje, porém, esse espaço histórico está praticamente apagado da paisagem e da memória. Sem qualquer tipo de preservação, o chamado “Cemitério dos Ingleses” é desconhecido até mesmo por moradores da capital.
O abandono da Ilha Stuart é mais do que o descaso por um pedaço de terra: é o reflexo de uma postura que, frequentemente, ignora o valor do que não está à vista. Em meio à pressa da urbanização e à negligência com o passado, a história britânica na Paraíba corre o risco de desaparecer sem deixar vestígios, como trilhos encobertos pelo mato ou túmulos engolidos pelo rio.
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