Na noite desta terça-feira (03), o Cine Aruanda em João Pessoa se prepara para receber não só um filme, mas um mergulho profundo na tradição da Jurema Sagrada. Axé, Meu Amor, dirigido pelo paraibano Thiago Costa, é um convite para uma viagem mística e cultural através das experiências de Mãe Bené, uma líder espiritual que, depois de um pesadelo perturbador, sente que sua guia espiritual, Mãe Flor, corre risco. Para proteger a anciã e preservar a sua cultura, Mãe Bené recorre às tradições ancestrais e é aí que o enredo se torna muito mais que um simples conto de misticismo: é uma reflexão sobre resistência e identidade.
O curta, exibido às 19h em uma sessão gratuita no Cine Aruanda, também será seguido de um debate que promete agitar o público. Uma das maiores riquezas do filme está na forma como ele conecta o misticismo da Jurema com uma necessidade urgente de preservação das culturas e tradições indígenas e afro-brasileiras. As protagonistas, Mãe Bené e Mãe Flor, não são apenas personagens fictícias, mas encarnações de mulheres que, na vida real, são figuras centrais na comunidade: Mãe Renilda, líder juremeira, e Vó Mera, mestra popular.
A proposta do filme vai além da dramatização de rituais espirituais. Trata-se de um resgate de uma prática milenar, em um cenário onde culturas tradicionais enfrentam o risco de desaparecimento. O curta foi desenvolvido ao longo de quatro anos, com o apoio do Laboratório Negras Narrativas, da Amazon, e tem sua estreia marcada como uma homenagem à força da mulher negra e espiritualista. O filme também se insere no contexto da disciplina de Jurema Sagrada do Departamento de Ciências das Religiões da UFPB, trazendo uma abordagem acadêmica e cultural sobre a prática religiosa.
A produção se desenrola como uma poética de resistência, não só contra as forças externas que ameaçam essas tradições, mas também contra o esquecimento. No entanto, Axé, Meu Amor não é só sobre espiritualidade, é também um reflexo de como, em tempos de incerteza, as raízes culturais tornam-se a única forma de não se perder.
Quem for ao debate, terá a chance de discutir não apenas os aspectos espirituais do filme, mas também o impacto do reconhecimento e valorização das culturas tradicionais, especialmente em um país onde os saberes ancestrais são constantemente marginalizados. E se você ainda duvida do poder da Jurema, lembre-se: ela não só cura, ela resiste.
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