Imagine só: uma artista paulistana que, ao olhar pela lente, se recusa a virar mais meia dúzia de cliques genéricos da vida e escolhe capturar a pureza teimosa da infância. Essa é Caroline Marini, 35 anos, filha de Vila Invernada, transitando entre palavra, poesia, audiovisual… e agora, fotografia autoral. Porque, convenhamos: era meu dia normal até descobrir que ela virou fotógrafa de pescadores antes de virar “aquela fotógrafa de pescadores”.
O resultado? A exposição Com os Pés na Terra e o Coração no Mar, tensa, mas não de tensão de armário, sim daquelas coisas que te puxam pro fundo da memória. São imagens que trazem adultos que lembram que foram criança, pisando na areia, furando as poças, conversando com o silêncio do horizonte e levando pro mar mais que redes de pesca: levando o que você esqueceu que já teve.
Veio tudo num empurrão bom: Carol frequentava a Praia da Penha, admirava a dança dos barcos e a sabedoria dos pescadores, até, num dia completamente comum, largar o olhar de luto e dizer “preciso fotografar isso”. Virou ensaio; virou exposição.
A programação do Viva Usina 2025 abriu a porta para esse passeio poético. Realizado pela Lei de Incentivo à Cultura, com cadeia de apoio que vai da Atua Comunicação Criativa à Energisa e ao Ministério da Cultura, o projeto trouxe arte “com propósito” para ocupar a Galeria Alexandre Filho, o tipo de galeria que respira cultura paraibana sem a exigência de “mais do mesmo”. De terça a sábado, com horário esticado nos fins de semana com festa cultural, a entrada é (tom naturalmente compulsório) gratuita. Porque nada diz “inspiração pública” como poder entrar e olhar sem pagar nada e ainda sair pensando onde foi que deixamos nosso manguezal interior.
E atenção, fãs do retrato bonito com porquê: a mostra não é só uma nostalgia bonita. O pescador José Luís, personagem que entrou no ensaio quase por acaso, lida todos os dias com redes vazias, lixo que insiste em voltar para a praia e a indiferença de quem deveria cuidar do mar. Ele agradece o registro porque sabe que cada foto é também um lembrete: praia não é vitrine, e peixe nenhum sobrevive de plástico.
Carol diz que não esperava esse impacto: ser selecionada foi um choque de café forte; ver esse ensaio se transformar em exposição física, outra dose de realidade. Ela teve o que toda artista merece: oportunidade. E quem visita, tem o direito de sentir e cobrar, junto.
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