O episódio político no Nepal está sendo citado por grupos digitais da direita brasileira como inspiração para protestos no país. A comparação surge justamente no momento em que o STF está concluindo o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus pela tentativa de golpe de Estado.
O ministro Flávio Dino enviou à Polícia Federal uma representação detalhando postagens que sugerem ataques aos ministros e à sede do Supremo, além de ameaças pessoais. Segundo ele, as mensagens apresentam referências explícitas ao Nepal, onde protestos populares obrigaram o primeiro-ministro KP Sharma Oli a renunciar, deixando pelo menos 30 mortos. “Trata-se de uma incitação clara, com risco real de gerar violência”, afirmou Dino.
Monitoramento da plataforma Palver identificou que os primeiros sinais surgiram em 7 de setembro, atingindo pico no dia 10. Entre os conteúdos compartilhados, surgem frases como “não há outra forma de combater um governo ditador” e instruções implícitas para replicar no Brasil o modelo de protesto que abalou Katmandu.
Além das investigações solicitadas por Dino, o PT acionou a Procuradoria-Geral da República contra os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO). De acordo com o partido, postagens que citam o Nepal buscam insuflar desobediência civil, colocando em risco a democracia e a segurança pública. Nikolas chegou a publicar vídeos com comentários como “O povo do Nepal cansou…” e “Menos um regime comunista no mundo. Amém”.
Especialistas alertam que o cruzamento de narrativas internacionais e tensões internas pode criar um efeito multiplicador, tornando as redes sociais canais de potencial violência. A PF e a PGR agora avaliam medidas preventivas para impedir que referências a distúrbios estrangeiros se convertam em atos de agressão dentro do Brasil.
O uso de episódios internacionais de instabilidade para incentivar violência no Brasil é irresponsável e perigoso. Comparar o julgamento de réus à força com protestos que deixaram dezenas de mortos no Nepal não é apenas uma distorção dos fatos: é uma tentativa clara de minar instituições democráticas e incitar caos. Movimentos assim ameaçam a segurança pública, desrespeitam o Estado de Direito e jogam o país em uma lógica de conflito que só produz medo e destruição. Democracia não se conquista com violência virtual ou comparações sensacionalistas, mas com debate, respeito às leis e participação cidadã consciente.
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