Nos anos 1950, enquanto a burocracia da cidade bocejava em gabinetes e papéis, um homem em cadeira de rodas desafiava o ordinário. Padre José Coutinho, ou simplesmente Padre Zé, atravessava João Pessoa como quem invade território inimigo — só que o campo de batalha era a pobreza e o abandono, e suas armas eram a empatia e a insistência.
Não havia planilha que medisse sua estratégia: ele batia portas, subia calçadas, percorria becos e até cemitérios, implorando ajuda para os invisíveis, para aqueles que o sistema preferia esquecer. O resultado? O Instituto São José e, depois, o Hospital Padre Zé, construções que não nasceram de um projeto arquitetônico, mas da obstinação de quem entende que a generosidade não precisa de licença.
A cidade riu, se espantou, admirou. Um documentário captou o feito: “Padre Zé estende a mão”, quase como se a câmera quisesse registrar um milagre cotidiano. Ele se foi em 1973, mas deixou um legado que é mais subversivo que qualquer plano urbano: mostrou que a compaixão, quando praticada com inteligência e coragem, transforma ruas em santuários.
Em 2012, começou o processo de beatificação e canonização. Mas, convenhamos, Padre Zé não precisou do Vaticano para ser um santo; sua santidade estava na rua, na insistência, na capacidade de fazer da caridade uma pequena revolução diária. E João Pessoa, cidade burocrática e sonolenta, nunca mais esqueceu da sua bondade.
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