A reprise de Terra Nostra na Globo não é a mesma novela de 1999. Quem acompanhou a trama na época e sintoniza hoje percebe: Batista, personagem vivido por José Dumont, praticamente desapareceu da história. Condenado por pedofilia, o ator teve cerca de 95% de suas cenas cortadas, segundo revelou a coluna Outro Canal.
A decisão da emissora é compreensível diante da gravidade do caso, mas abre um debate incômodo: até que ponto é legítimo reescrever a memória cultural em nome do presente? Dumont foi parte central da teledramaturgia brasileira por décadas, e Terra Nostra é um retrato desse período. Os cortes, embora moralmente defensáveis, distorcem a experiência original da obra.
Ao optar por reduzir Batista a quase nada, a Globo sinaliza que prefere silenciar a presença do ator a contextualizar sua importância e seu crime. É um dilema que ultrapassa a televisão: como lidar com obras que carregam marcas de artistas depois envolvidos em crimes graves? Apagar é um caminho rápido, mas talvez não seja o mais honesto com a história.
Comente sobre o post