O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta sexta-feira (19) uma ordem executiva que pode redefinir as regras da imigração no país ao atrelar residência e mobilidade ao poder econômico. O pacote de medidas inclui a criação do chamado “Gold Card”, um visto especial destinado a estrangeiros dispostos a doar pelo menos US$ 1 milhão individualmente, ou US$ 2 milhões por meio de empresas, em troca de um processo acelerado de residência. Trump defendeu que a iniciativa, além de abrir as portas para investidores, trará bilhões de dólares aos cofres públicos e ajudará a reduzir impostos, ao mesmo tempo em que sinaliza que a imigração, sob sua gestão, está cada vez mais condicionada à capacidade de pagamento.
Em paralelo, o governo endureceu o acesso ao tradicional visto H-1B, voltado para trabalhadores altamente qualificados, impondo uma taxa inédita de US$ 100 mil por ano às empresas que desejarem patrocinar profissionais estrangeiros. A justificativa oficial é frear abusos do programa e forçar companhias de tecnologia a priorizarem mão de obra americana. Contudo, o efeito imediato pode ser outro: limitar contratações internacionais em setores que dependem de engenheiros, cientistas e especialistas formados fora do país. Empresas do Vale do Silício já manifestaram preocupação com a medida, lembrando que a inovação norte-americana se construiu, em boa parte, sobre o talento importado.
Ao atrelar a imigração a cifras milionárias e ao encarecer drasticamente vistos de trabalho, Trump reforça uma visão de imigração seletiva, que abre as portas para os super-ricos e cria barreiras para profissionais qualificados de classe média. Se a promessa de arrecadar bilhões pode soar atraente do ponto de vista fiscal, o risco é de longo prazo: perder cérebros, desacelerar pesquisas e tornar os Estados Unidos menos atrativos para os talentos globais que tradicionalmente alimentaram a liderança científica e tecnológica do país.
Mais do que uma mudança administrativa, a medida escancara uma lógica mercantil da política migratória. O “Gold Card” transforma o direito de viver nos Estados Unidos em um produto de luxo, enquanto a nova taxação do H-1B impõe uma barreira quase proibitiva a empresas menores e a profissionais estrangeiros. O discurso de proteção ao trabalhador americano, embora politicamente eficaz, pode ter consequências econômicas e diplomáticas difíceis de reverter, marcando mais um capítulo de tensão entre pragmatismo financeiro e o ideal de país aberto que sempre sustentou o prestígio dos EUA no cenário global.
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