Hollywood sempre teve um certo fetiche por remakes e releituras, mas a Warner Bros. decidiu dar um passo além: “ressuscitar” O Mágico de Oz (1939) com a ajuda da inteligência artificial. A façanha tecnológica, desenvolvida em parceria com engenheiros do Google, custou algo em torno de US$ 80 milhões e foi feita sob medida para o palco mais excêntrico de Las Vegas: a Sphere, aquela bola gigante de LED que vive viralizando ao virar emoji, planeta, olho gigante ou qualquer coisa que caiba em pixels. Dentro do Sphere, o público é engolido por uma tela curva de 15 mil metros quadrados, que se projeta sobre um auditório capaz de acomodar 17.600 pessoas.
O projeto, exibido em abril, não se limitou a restaurar o clássico em alta definição. A IA generativa foi usada para criar pixels novos, expandir os cenários além do enquadramento original e adicionar detalhes de fundo inexistentes em 1939. Em outras palavras, Dorothy saiu do Kansas, mas voltou para uma Oz mais parecida com um screensaver de computador do que com a mágica imaginada por Victor Fleming.
O problema? Ao transformar as telas pintadas do estúdio em paisagens fotorrealistas, a IA acabou tirando justamente o que fazia Oz parecer mágico. Para muitos críticos, a experiência reduziu a fantasia a algo “demasiado real”, como se a inteligência artificial tivesse decidido que o público não consegue mais lidar com a sugestão do imaginário. Resultado: os comentários foram recheados de termos nada simpáticos, e a palavra “vandalismo” apareceu com frequência.
A polêmica não é exatamente inédita. A internet já se divertiu, ou se horrorizou, com tentativas de “expandir” obras de arte clássicas usando algoritmos, como quando a Mona Lisa ganhou um cenário improvisado que mais parecia um planeta alienígena. A diferença, aqui, é que O Mágico de Oz é considerado patrimônio quase sagrado da cultura cinematográfica, e mexer nele, para muitos, soa como pecado capital.
No fim, a versão turbinada só existe para a Sphere, mas já deixa a pergunta no ar: quando a tecnologia passa do limite entre restaurar e reinventar? Como diria Ian Malcolm em Jurassic Park, em frase que envelheceu como uma profecia: “Seus cientistas estavam tão preocupados se poderiam, que não pararam para pensar se deveriam.”
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