Uma pesquisa do projeto ‘Coral Eu Cuido’ mostrou que 13% das colônias de corais nos recifes do Bessa, em João Pessoa, estão doentes. Foram analisados 360 metros quadrados (m²) entre 2018 e agosto de 2019, com 3.521 colônias de corais catalogadas.
Outros 48% estavam saudáveis e 38% apresentavam branqueamento, quando o coral perde as algas fotossintetizantes chamadas de zooxantela em um processo decorrente do aumento da temperatura da água do mar.
Pela primeira vez, desde o meu primeiro mergulho na costa da Paraíba, em 1999, eu fiquei impressionada ao ver a quantidade de corais branqueados. Praticamente todos
Professora Cristiane Sassi
Dos 8.164 organismos apontados no mar do Bessa, 44,25% são corais, 32,41% são algas, 19, 33% são zooantídeos; além de esponjas, ascídias e sedimento (4,01%).
No Seixas, em área do mesmo tamanho, foram registradas 987 colônias de corais. Conforme os resultados, 85% deles estavam com branqueamento, sendo que quase 60% desses estavam com branqueamento forte.
Segundo a pesquisa, no Seixas havia apenas 7% de animais saudáveis e 6% estavam doentes. Dos 7.2011 organismos, 13,69% são corais; 42,44% são algas; 35,60% são zooantídeos; além de esponjas, hidroide calcário e sedimento (21,97%).
De acordo com os pesquisadores, um dos principais fatores responsáveis pela alta incidência do branqueamento foi uma anomalia térmica que teve o ápice em 2020. Com base em informações do ‘National Oceanic and Atmospheric Administration’ (NOAA), o alerta para o aquecimento do oceano na região da costa do Nordeste brasileiro em 2019 foi de nível 1, considerado alto. Em 2020, esse alerta subiu para nível 2, o que ampliou a incidência do branqueamento.
“Pela primeira vez, desde o meu primeiro mergulho na costa da Paraíba, em 1999, eu fiquei impressionada ao ver a quantidade de corais branqueados. Praticamente todos. Felizmente, a área não teve visitação turística por causa de restrições em função da pandemia, o que diminuiu o estresse aos animais”, disse a professora Cristiane Sassi.
O branqueamento ocorre porque a alta temperatura provoca o desprendimento de uma microalga que vive em simbiose com o coral, o que fornece a cor e alimento. Sem essa microalga eles podem se recuperar, posteriormente, ou morrer. Em 2021 o alerta voltou para o nível 1, mas continua acima da média histórica para a região. Novas pesquisas do projeto ‘Coral Eu Cuido’ estão monitorando esses fatos, na segunda fase do projeto que começou em 2022.
Os corais são animais que dão sinais sobre as condições de saúde dos recifes, indicando problemas que estejam acontecendo no ambiente. Os pesquisadores aplicaram metodologias nas praias do Bessa e do Seixas por serem locais muito explorados por visitantes e integrados à Area de Preservação Ambiental (APA) ‘Naufrágio Queimado’.
Os pesquisadores planejaram e realizaram ações de sensibilização para a conservação do ambiente de recifes junto aos agentes de turismo e visitantes.
Foram elaborados mapas apontando as áreas de restrição de uso, conforme as necessidades para a conservação, como locais onde há colônias de corais recém criados, novinhos, ou seja, os “corais recrutas”, como são chamados pelos pesquisadores. Ou áreas onde há os animais que provocam lesões nas pessoas, por soltarem toxinas.
Essas toxinas podem afetar pelo contato e provocar paralisia local temporária, inchamento, ou outros problemas. Os integrantes do projeto esclareceram que se tratam de zoantídeos, animais que “revestem” os recifes. A população deve estar informada para evitar esse contato.
Os mapas foram entregues aos gestores ambientais e aos agentes de turismo, para alertarem os visitantes a se resguardarem durante o lazer. Dentre as sugestões para a conservação do ambiente, Cristiane Sassi destacou a necessidade de finalizar o plano de manejo da APA Naufrágio Queimado; manter programas permanentes de monitoramento da saúde dos corais e ações de sensibilização ambiental; capacitação dos agentes de turismo e multiplicação das informações.
O projeto ‘Coral Eu Cuido’ tem o objetivo de monitorar os ambientes de recifes costeiros em João Pessoa, entender como esses lugares são usados pela população e promover medidas para conservação mediante um modelo de gestão participativa para ordenar as atividades de turismo e lazer.
No âmbito do Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas, foi elaborado o Larbim/UFPB, no Departamento de Sistemática e Ecologia (CCEN/UFPB). O projeto tem a coordenação da Professora Drª. Cristiane Sassi e é fruto de uma parceria com a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Os resultados sobre a saúde dos corais na Paraíba foram apresentados pela coordenação do projeto na semana passada, durante uma reunião no Auditório do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por meio do Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE), em João Pessoa.
Reprodução: Portal Correio.