Campina Grande, 4 de abril de 2025 – O campus da Universidade Estadual da Paraíba amanheceu em silêncio nesta sexta-feira. Silêncio não apenas de corredores vazios e salas fechadas, mas de um luto coletivo difícil de nomear. Um dia depois de um ataque que interrompeu uma vida dentro da instituição, a morte do suspeito Flávio Medeiros, confirmada pelo Hospital de Trauma de Campina Grande, encerra um ciclo trágico de violência motivada por relações pessoais e marcada pela ausência de mediação emocional.
Na noite de quinta-feira (3), Flávio entrou na universidade e atirou contra Keine Diniz, funcionário de uma copiadora no campus. A vítima teria iniciado um relacionamento com a ex-companheira do agressor, o que, segundo a Polícia Civil, teria motivado o crime. Após o assassinato, Flávio tentou invadir a escola onde a ex-esposa trabalhava, no bairro Três Irmãs, mas não conseguiu. Mais tarde, em uma estrada nos arredores da cidade, atirou contra si mesmo. Morreu nesta manhã.
A tragédia expôs mais do que falhas de segurança. Trouxe à tona uma urgência emocional — a de compreender como questões íntimas, mal elaboradas, podem escalar até o irreparável. Não há manual para prever essas rupturas, mas o impacto delas é coletivo. Keine foi morto dentro de um espaço público de aprendizagem, diante da normalidade cotidiana. E a universidade, que deveria ser espaço de pensamento e diálogo, agora abriga também o peso do trauma.
A UEPB suspendeu todas as aulas até o dia 11 de abril. Atividades administrativas continuam de forma remota. Em nota, a reitoria afirmou que o momento é de “reforço da segurança e reorganização dos protocolos de acesso”, negando tratar-se de um atentado com motivação ampla.
Nos bastidores, alunos, professores e servidores tentam digerir o ocorrido. Muitos evitam comentar. Outros falam com receio, com tristeza. Em comum, há um sentimento de vulnerabilidade que não se apaga com a morte do autor da violência.
Trata-se de um caso extremo, mas não isolado. A linha entre o pessoal e o público, entre o íntimo e o coletivo, se rompe quando emoções são negligenciadas. Quando o diálogo é substituído pela raiva. Quando a dor vira arma.
A tragédia na UEPB é também um convite, doloroso, a pensar sobre isso. E sobre o que pode ser feito — antes que seja tarde.
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