Mario Vargas Llosa fechou o livro da vida neste domingo, em Lima, aos 89 anos. Saiu em silêncio, como quem entende que a última página não precisa de aplauso. Foi seu filho, Álvaro, quem avisou: sem velório público, sem discursos — apenas o luto íntimo de uma família que dividiu o pai com o mundo.
Foi um autor que não escreveu para agradar. Preferia as verdades desconfortáveis, mesmo quando elas vinham com farda, festa ou fé. Desde os anos 1960, embaralhou literatura e política como poucos — sem pedir licença aos regimes, nem favores aos leitores. Os cachorros, os bordéis, as ditaduras e os desencontros da América Latina encontraram nele um narrador incansável.
Não foi só peruano — tornou-se espanhol por convicção, latino-americano por vocação, cidadão do mundo por consequência. Ganhou prêmios, criou polêmicas, comprou brigas. Escreveu romances como quem documenta o caos e ensaios como quem tenta, ao menos, entender onde tudo se perdeu.
Morreu como queria: escrevendo. Porque para ele, a ficção era mais que fuga — era ferramenta. E agora que ele partiu, fica o eco das perguntas que nos ensinou a fazer. Algumas sem resposta. Como deve ser.
Comente sobre o post