O aumento expressivo no preço do chocolate deve impactar diretamente as vendas do varejo brasileiro nesta Páscoa. Segundo projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o volume de vendas deve atingir R$ 3,36 bilhões, o que representa uma retração de 1,4% em relação ao mesmo período do ano passado, já descontada a inflação.
O principal motivo da queda é a disparada no preço do chocolate, que teve reajuste médio de 18,9% — o maior registrado nos últimos 13 anos. A elevação é atribuída à valorização do cacau no mercado internacional e à desvalorização do real frente ao dólar, que passou de R$ 5 para R$ 5,80 em um ano.
Para o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, o atual cenário da economia brasileira é marcado por pressões inflacionárias externas e instabilidade cambial, o que acaba desestimulando o consumo. “O varejo sente os efeitos de um cenário macroeconômico incerto, o que resulta na desaceleração do consumo em datas importantes como a Páscoa. Isso força o setor a rever suas estratégias e planos em curto, médio e longo prazo”, explicou. Além do chocolate, outros produtos típicos da Páscoa também registraram aumentos expressivos, como o bacalhau, com alta de 9,6%, e o azeite de oliva, com reajuste de 9%.
Ao todo, a cesta pascal — composta por oito itens tradicionais — deve ter um aumento médio de 7,4% nos preços. Os efeitos da retração também são percebidos nas importações. Dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que, em março, a entrada de chocolates importados recuou 17,6% e a de bacalhau caiu 11,7%.
Segundo o economista da CNC, Fabio Bentes, a queda nas importações reforça a percepção de desaquecimento do consumo. A expectativa negativa interrompe uma trajetória de recuperação iniciada em 2021, após o forte impacto da pandemia. Desde então, o comércio vinha apresentando crescimento real nas vendas de Páscoa, motivado pela retomada econômica e pela melhora do mercado de trabalho. A reversão desse cenário marca 2025 como o primeiro ano de retração desde então. Geograficamente, o estado de São Paulo deve liderar a movimentação econômica na data, com estimativa de R$ 923,29 milhões em vendas.
Em seguida vêm Minas Gerais (R$ 344,06 milhões), Rio de Janeiro (R$ 237,52 milhões) e Rio Grande do Sul (R$ 194,93 milhões), que juntos representam mais da metade do faturamento nacional no período. Apesar disso, estados como Bahia (-6,2%) e Rio Grande do Sul (-4,9%) devem sofrer as maiores quedas percentuais nas vendas. Mesmo com a manutenção do apelo emocional e tradicional da Páscoa, os preços elevados devem frear o entusiasmo do consumidor. Com isso, o feriado deste ano tende a reforçar um comportamento de consumo mais cauteloso, marcado por escolhas racionais e foco no essencial.
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