Se o Ministério da Fazenda fosse uma repartição dos anos 90, o ministro Fernando Haddad estaria neste momento segurando um telefone com fio, batendo o dedo no gancho e dizendo: “alô, Hugo?”. Mas não — estamos em 2025, e o silêncio do presidente da Câmara, Hugo Motta, virou mais barulhento que a derrubada relâmpago do decreto do IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras.
Desde o anúncio-surpresa feito por Motta nas redes sociais — sim, é assim que a Câmara avisa que vai derrubar decreto hoje em dia — o Planalto vem tentando entender o que aconteceu. O próprio Haddad diz que nunca se falou em traição. Mas quando 242 votos a favor da derrubada vêm de partidos com ministérios no governo, a palavra “lealdade” começa a soar como ironia.
O resultado foi uma aula de articulação política — não do governo, mas do Congresso. A matéria foi aprovada por ampla maioria na Câmara (383 a 98) e, no Senado, para não humilhar, foi no modo silencioso: votação simbólica.
O governo agora acena para o Judiciário com a Advocacia-Geral da União em mãos, para tentar entender se o Congresso pode ou não simplesmente dizer “não” ao aumento do IOF. A esperança é que, talvez, a Justiça queira ouvir o que Haddad tem a dizer, já que Hugo Motta aparentemente não está retornando as ligações.
Enquanto isso, os decretos vão caindo e o Orçamento vai ficando mais apertado. Quem diria que o IOF — aquele imposto invisível que ninguém entende, mas todo mundo paga — se tornaria protagonista de uma das maiores derrotas legislativas do governo.
Resta saber se, no fim das contas, Haddad vai conseguir conversar com Motta antes de acabar falando sozinho… ou com o juiz.
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