Quando o corpo dá sinais, o câncer de pâncreas já está com o jogo meio ganho. Esse é o maior desafio enfrentado por pacientes e médicos: identificar um tumor que, na maior parte do tempo, se esconde nos bastidores do abdômen — atrás de órgãos, tecidos e da rotina corrida de quem só vai ao médico quando dói. E mesmo quando dói, nem sempre parece grave.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que o câncer pancreático representa apenas 2% dos casos oncológicos no país, mas responde por 4% das mortes por câncer. Ou seja: proporcionalmente, ele mata mais do que aparece. A explicação está na sua discrição. Quando os sintomas surgem — dor nas costas, perda de apetite, icterícia, cansaço crônico — o tumor costuma já ter avançado. E aí, o caminho fica mais estreito.
A maior parte dos casos é do tipo adenocarcinoma, que costuma se alojar na “cabeça” do pâncreas. A localização dificulta ainda mais a detecção precoce: trata-se de um órgão que vive escondido atrás do estômago, quase na linha do horizonte entre as vértebras e os vasos sanguíneos.
O fator idade pesa: o câncer pancreático costuma aparecer depois dos 60. Mas quem cultiva uma dieta rica em ultraprocessados, fuma sem culpa e faz da inatividade física um estilo de vida também se inscreve no grupo de risco. Diabetes tipo 2, pancreatite hereditária e síndromes genéticas também aumentam a probabilidade de o pâncreas se tornar o protagonista de um drama real.
O diagnóstico exige mais do que um exame de sangue. Tomografia, ressonância, ultrassom endoscópico e, quando necessário, biópsia. Tudo sob os olhos de um time multidisciplinar. E se antes o prognóstico era quase uma sentença, hoje há opções de quimioterapia mais eficazes, e até cirurgias possíveis em casos selecionados. A medicina, enfim, não é mais refém do acaso.
Mas prevenção ainda é a melhor estratégia. Parar de fumar, manter um peso saudável e movimentar o corpo são atitudes simples, mas que o pâncreas — esse trabalhador discreto que regula o açúcar e digere nossa vida — agradece.
Se há um alerta final a se fazer, é o seguinte: dor abdominal que não passa, perda de peso sem esforço e mudanças repentinas no corpo não são detalhes. São convites para marcar uma consulta e ouvir o que o corpo está tentando dizer antes que o silêncio custe caro.
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