No coração do Chifre da África, um fenômeno geológico silencioso, mas monumental, está em curso. Entre os territórios da Etiópia, Djibuti e Eritreia, a crosta terrestre não apenas se move — ela se estica. Ali, três placas tectônicas seguem trajetórias opostas, afastando-se umas das outras a uma taxa inferior a um centímetro por ano. Pode parecer imperceptível, mas para a escala do planeta, é um piscar de olhos.
O nome do lugar já é sugestivo: Depressão de Afar. Uma imensa rachadura aberta na superfície terrestre, moldada por forças subterrâneas que empurram magma do manto em direção à crosta, enfraquecendo o solo e redesenhando a paisagem. Esse processo é conhecido como rifteamento, o estágio inicial da formação de um novo oceano. E ali, no meio do continente africano, essa história está sendo escrita ao vivo — por satélites, GPS e geólogos fascinados.
Se o ritmo atual se mantiver, parte do leste da África pode se separar do restante do continente dentro de alguns milhões de anos, criando uma imensa ilha e abrindo espaço para um oceano inédito, que poderia surgir entre 1 e 20 milhões de anos.
A região já exibe os sinais do que está por vir. Falhas geológicas, vales afundados e uma atividade sísmica constante indicam que o continente está sendo redesenhado. Quando (e se) a água do Oceano Índico invadir a fenda, o que hoje parece uma paisagem árida e partida será a nascente de um novo corpo d’água, redesenhando mapas e separando terras que hoje dividem raízes culturais e históricas.
O processo, embora distante para a experiência humana, é uma lembrança poderosa de que a Terra, mesmo aparentemente estável, nunca para de se mover.
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