Sabe aquele momento em que o Brasil acerta tanto que vira suspeito? Pois é. O Pix, invenção 100% nacional que em poucos anos virou verbo, substantivo e inimigo comercial, está sendo investigado pelos Estados Unidos. O motivo? Segundo o governo americano, ele seria… bom demais. Sim, o problema com o Pix é que ele funciona.
A denúncia vem do Escritório de Comércio dos EUA (USTR), que resolveu olhar torto para um sistema que permite transferências instantâneas e gratuitas entre cidadãos, algo tão revolucionário que se tornou uma ameaça ao reinado de empresas como Google e Apple no mercado de pagamentos digitais.
A acusação gira em torno de uma suposta “preferência injusta” dada ao Pix pelo governo brasileiro. A ironia, claro, é que a preferência nasceu no bolso do povo, não em decreto. Com um celular básico, qualquer brasileiro hoje faz uma transação bancária em segundos, sem pagar nada e sem precisar de cartão, maquininha ou senha de oito dígitos, duas maiúsculas e um caractere especial.
O que incomoda, e muito é que a façanha não veio do Vale do Silício, mas do Banco Central do Brasil. O mesmo país que, durante anos, foi tratado como laboratório de fintechs estrangeiras agora produz sua própria tecnologia e ainda tem a ousadia de exportá-la para outros mercados. Um escândalo.
Fred Amaral, CEO da Lerian, resume bem: “Quando uma solução nasce fora do eixo EUA-Europa e vira referência, o incômodo é previsível.” Já Marcelo Crespo, especialista em Direito Digital, lembra que chamar a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) de barreira comercial é como acusar um cinto de segurança de atrapalhar a velocidade dos carros. A legislação de dados brasileira vale para todos, inclusive para os gigantes que já achavam que a internet era terra sem lei (ou só com a deles).
A resposta do governo brasileiro foi espirituosa: “O Pix é nosso, my friend”, postou a Secom. E nem precisou traduzir. O recado estava claro e carregado de um certo sabor de revanche. Um sistema público, seguro, acessível e… invejável. Quem diria.
Enquanto isso, o Banco Central trabalha para internacionalizar o Pix. Já há testes em países como Argentina e Portugal, e a ambição é levá-lo ainda mais longe. Talvez até ao coração do problema: os próprios Estados Unidos. Imagine o cidadão americano transferindo US$ 5 em segundos, sem tarifa, e se perguntando por que isso não era possível antes. Pode ser demais para o ego digital de algumas corporações.
No fim das contas, o Pix está fazendo mais do que movimentar dinheiro. Está chacoalhando estruturas. E isso, num mundo acostumado a ver o Brasil como consumidor e não como inovador. Mas, para variar, é dor de cotovelo.
E o melhor: essa tecnologia não vem com mensalidade, assinatura premium nem versão beta. Vem com CPF, celular e uma boa dose de competência estatal. Que afronta.
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