Desde 2016, a pacata cidade de Trevignano Romano, a cerca de 50 km de Roma, tornou-se palco de romarias e comoção religiosa por conta de uma estátua da Virgem Maria que, segundo fiéis, derramava lágrimas de sangue. O fenômeno, amplamente divulgado nas redes e em canais religiosos, atraiu centenas de peregrinos, movidos pela fé e pelo mistério.
Mas o que era tido por muitos como manifestação divina ganhou contornos de farsa. Autoridades italianas realizaram testes de DNA no líquido avermelhado que escorria da imagem e descobriram que o sangue pertencia a uma única pessoa: Gisella Cardia, ex-empresária e autodeclarada vidente, responsável por liderar as cerimônias no local.
A revelação deu novo impulso a uma investigação judicial que já apurava suspeitas de fraude e uso indevido de doações recebidas por Gisella, que fundou uma associação religiosa em torno das supostas aparições marianas. A promotoria apura se houve enriquecimento ilícito com base na fé alheia.
A Igreja Católica, por sua vez, adotou postura firme. O bispo da diocese local declarou que não há qualquer respaldo para considerar sobrenaturais os fenômenos atribuídos à estátua, proibindo formalmente celebrações religiosas ligadas ao caso.
Mesmo diante das evidências científicas e do posicionamento oficial da Igreja, uma parcela dos seguidores de Gisella continua a acreditar. Alguns alegam perseguição e questionam a confiabilidade dos exames forenses, mantendo vivo o culto às lágrimas da imagem.
O caso de Trevignano expõe o delicado limite entre fé e exploração, milagre e mistificação e reacende o debate sobre como distinguir o sagrado do sensacionalismo.
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