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Aos 80 anos, Mestra Têca de Oyá transforma tradição em som com lançamento de seu primeiro álbum

Aos 80 anos, Mestra Têca de Oyá transforma tradição em som com lançamento de seu primeiro álbum

Por: Hermano Araruna
13/06/2025 às 11h02 Atualizada em 13/06/2025 às 14h02
Aos 80 anos, Mestra Têca de Oyá transforma tradição em som com lançamento de seu primeiro álbum
Foto: Reprodução

Um canto antigo ganhou voz em estúdio. Aos 80 anos de idade, a sacerdotisa e mestra tradicional Têca de Oyá lançou seu primeiro álbum, intitulado Catimbó. O disco marca um momento inédito na trajetória de uma das mais respeitadas referências vivas da Jurema Sagrada e do Candomblé em Pernambuco.

O projeto é resultado de uma articulação entre Mestra Têca e a Casa das Matas do Reis Malunguinho, espaço dedicado à preservação e valorização das religiosidades afro-indígenas. Longe do mercado fonográfico convencional, o trabalho tem caráter documental e educativo, funcionando como registro sonoro de cantos e rezas transmitidos oralmente por gerações, muitos dos quais nunca haviam sido gravados.

Têca de Oyá, cujo nome de batismo é Maria José da Silva, atua há mais de seis décadas em rituais da Jurema e do Candomblé, especialmente no interior de Pernambuco. Seu terreiro é ponto de referência para estudiosos, devotos e lideranças tradicionais. Com o lançamento de Catimbó, a mestra firma também sua presença no universo da produção cultural, sem deslocar suas raízes da oralidade e do sagrado.

As faixas do álbum foram gravadas ao longo de meses de encontros em sua comunidade. Não há instrumentos ocidentais, nem harmonizações artificiais. Os registros seguem a estrutura dos toques e cantigas entoados nos rituais, com acompanhamento de maracás, agogôs e atabaques, preservando a cadência e a força original das práticas.

“É um documento para os que vêm depois, para que não se perca o que aprendi com os antigos”, declarou Mestra Têca durante o lançamento, que aconteceu de forma híbrida, com roda de conversa e exibição do álbum em plataformas digitais e em eventos presenciais em terreiros parceiros.

O álbum também tem função pedagógica. Será distribuído gratuitamente para escolas públicas e centros culturais ligados à educação antirracista e à valorização das culturas afro-brasileiras e indígenas. A proposta, segundo os organizadores, é “tirar os saberes da oralidade do risco do esquecimento, sem desrespeitar os limites que o sagrado impõe”.

A iniciativa surge num contexto em que as tradições da Jurema Sagrada enfrentam não apenas o preconceito histórico, mas também o desafio da transmissão num tempo marcado pela tecnologia e pela ruptura dos laços comunitários. Catimbó, nesse sentido, é mais que um álbum: é um gesto político, espiritual e histórico.

O lançamento conta com apoio da Lei Paulo Gustavo e integra uma série de ações de fortalecimento da memória viva dos povos tradicionais. Para quem quiser ouvir, Catimbó já está disponível nas principais plataformas de streaming. Para quem quiser entender, é preciso escutar com mais do que os ouvidos.

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