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Costa à Deriva: enquanto o mar avança, o Estado rema em círculos

Costa à Deriva: enquanto o mar avança, o Estado rema em círculos

Por: Hermano Araruna
07/07/2025 às 14h00 Atualizada em 07/07/2025 às 17h00
Costa à Deriva: enquanto o mar avança, o Estado rema em círculos
Foto: Reprodução

A costa paraibana está, literalmente, sumindo. A cada ano, o mar avança um pouco mais sobre as cidades litorâneas do estado, e o que antes era visto como um problema isolado da barreira do Cabo Branco, em João Pessoa, agora se confirma como uma crise regional. Em várias cidades litorâneas da Paraíba, a erosão costeira se tornou um desafio que mistura forças naturais com neglicências humanas.

Na Baía da Traição, por exemplo, o mar já engoliu mais de 40 imóveis. A preocupação agora é que ele avance sobre o leito do rio que abastece a cidade. Parte das casas atingidas era usada apenas nas férias, mas muitas pertenciam a famílias indígenas que precisaram ser realocadas pela Funai. Sem recursos, a prefeitura recorreu ao Governo do Estado, que prometeu bancar uma obra de enrocamento orçada em R$ 5 milhões. Enquanto isso, a equipe do Preamar — Programa Estratégico de Estruturas Artificiais Marinhas da Paraíba — corre contra o tempo para concluir um diagnóstico detalhado da área. Carapibus, no Conde, também virou um ponto crítico. A água do mar já expôs falésias, destruíu raízes de vegetação e revelou as fundações de imóveis construídos imprudentemente sobre o solo frágil. A vila de pescadores de Jacumã é outro retrato da urgência. Ali, o problema nem é o mar, mas as chuvas, que estão minando as barreiras naturais aos poucos. Com casas praticamente penduradas sobre as falésias, moradores relatam deslizamentos frequentes. Em um dos casos, uma mulher e seus filhos ficaram presos dentro de casa após parte da estrutura desabar. Os riscos, segundo relatos, existem desde sempre, mas nunca foram tratados com a seriedade necessária. O problema é complexo, mas não inédito. Mudanças climáticas, aumento do nível do mar e ocupação desordenada são fatores recorrentes nos estudos de quem acompanha o fenômeno. Enquanto as soluções definitivas não saem do papel, o mar continua fazendo o seu curso: levando aos poucos a terra firme, enquanto o poder público ainda tenta decidir se toma providências ou apenas observa o avanço das águas. A omissão pode custar mais do que dinheiro: pode arruinar vidas, paisagens e memórias inteiras.
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