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Peñico, a cidade esquecida que pode reescrever a história pré-colombiana

Peñico, a cidade esquecida que pode reescrever a história pré-colombiana

Por: Hermano Araruna
08/07/2025 às 16h38 Atualizada em 08/07/2025 às 19h38
Peñico, a cidade esquecida que pode reescrever a história pré-colombiana
Foto: Reprodução

Uma nova página começou a ser escrita nos livros de arqueologia sul-americana. Pesquisadores peruanos anunciaram a descoberta de uma cidade com aproximadamente 3.500 anos no norte do Peru, batizada de Peñico. Escondida há milênios entre os vales da província de Barranca, a cerca de 200 km de Lima, a cidade pode ajudar a preencher uma das lacunas mais intrigantes da história antiga das Américas: o que aconteceu com Caral, considerada a civilização mais antiga do continente?

O sítio arqueológico, situado a 600 metros acima do nível do mar, foi escavado ao longo dos últimos oito anos. Os achados incluem templos cerimoniais, estruturas residenciais, esculturas de argila, colares feitos de conchas e miçangas e até objetos ritualísticos. Uma construção circular no centro da cidade, registrada por drones, sugere que Peñico também cumpria papel religioso central.

Mas o que realmente empolga os especialistas não é apenas o que foi encontrado, e sim onde — e quando. A cidade teria surgido entre 1.800 e 1.500 a.C., mesma época em que civilizações floresciam no Crescente Fértil, no sul da Ásia e no vale do Nilo. A localização de Peñico também reforça sua importância estratégica: ela ficava no cruzamento entre a costa do Pacífico, os Andes e a floresta amazônica, funcionando como uma espécie de entreposto comercial e cultural.

Para a arqueóloga Ruth Shady, que ficou conhecida nos anos 1990 por liderar as escavações em Caral, a descoberta de Peñico oferece pistas sobre o que pode ter acontecido após o colapso da civilização mãe das Américas, possivelmente provocado por eventos climáticos extremos. A nova cidade poderia representar um “elo perdido” entre o auge de Caral e o surgimento de outras sociedades complexas que se espalharam pelos Andes nos séculos seguintes.

O arqueólogo Marco Machacuay, do Ministério da Cultura do Peru, endossa a leitura. Em entrevista, afirmou que Peñico representa uma continuidade cultural de Caral, e que parte do seu legado pode ter sido preservado por comunidades que migraram e se estabeleceram em novas regiões após o declínio da cidade original.

Com a revelação de Peñico, o Peru soma mais um ponto no mapa de seu vasto e ainda não totalmente desvendado patrimônio arqueológico — que já inclui Machu Picchu, as Linhas de Nazca e o próprio complexo de Caral. Mais do que uma simples descoberta, o novo sítio arqueológico pode oferecer respostas sobre as origens do urbanismo, da religiosidade e das redes de troca na América pré-colombiana. E, quem sabe, transformar uma cidade até então invisível em peça-chave para entender os alicerces do mundo andino.

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